ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | História dos filmes não ficcionais paulistas dos anos 30 e 40 |
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Autor | Márcia Juliana Santos |
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Resumo Expandido | O objetivo desta comunicação é apresentar aspectos da pesquisa “Da capital bandeirante às imagens do cinema institucional de São Paulo (1930-1940)”, consolidada na Tese de Doutorado em História Social, defendida em 2011, na PUC-SP.
Entre as décadas de 1920 a 1940, muitos cinegrafistas intensificaram a produção de não ficcionais, classificados à época, como naturais, atualidades, cinejornais e documentários, a maioria de curta e média metragens. Porém, o resultado dessa atividade foi pouco retratado nos textos clássicos de história do cinema brasileiro. O livro "Introdução ao cinema brasileiro", de Alex Viany, lançado em 1959, foi uma das primeiras contribuições historiográficas sobre o cinema no Brasil. Traz informações e fontes sobre a atividade no país, entre o final da década de 1950. No entanto, poucas vezes o autor mencionou a importância da produção não ficcional, apesar da enormidade desses filmes. Essa ausência desdobrou-se em textos posteriores e contribuiu para o aforismo de que, “ao terminar a primeira década [anos de 1930] de cinema falado no Brasil, São Paulo havia parado”, segundo Viany. A maior parte da historiografia corrobora com essa tese, afirmando inclusive que a produção paulista só voltaria à cena cinematográfica, em 1949, com o advento da Vera Cruz. Nos anos de 1970, Paulo Emílio Salles Gomes, preocupado em desenvolver um método explicativo para a história do cinema brasileiro, retomou Viany para reforçar que o marco do cinema paulistano seria o empreendimento industrial, pois “conferiu ao retorno paulista um tom sensacional”. Assim, a produção paulista tornava-se sinônimo de filme ficcional de longa-metragem, atrelada à lógica industrial. Nos anos de 1980, Jean-Claude Bernardet problematiza essa tradição. Ele enfatiza que a crise ficcional dos anos 30 – em parte decorrente do advento do som – e anterior à ascensão dos grandes estúdios paulistas, não implicou necessariamente na suspensão de filmes. Pelo menos dos curtas e dos não ficcionais. Em parte, essa tradição, segundo Bernardet, seguiu uma tendência dos críticos de aplicar ao Brasil “um modelo de histórias elaborado para os países industrializados em que o filme de ficção é o sustentáculo da produção”. Tendo em vista as controvérsias sobre a legitimidade do não ficcional, assinalei a hipótese de que a produção em São Paulo não “havia parado”, durante as décadas de 1930 e 1940. O meu objetivo era reafirmar a importância desses filmes, desvalorizados pela crítica e renegados pela maioria dos textos clássicos da historiografia do cinema brasileiro. Nesses anos, a produção não ficcional em São Paulo se intensificou, em parte, para atender a uma demanda do governo (municipal e estadual) de registrar as transformações urbanas, sociais e políticas pelas quais passava a capital paulista. E também para atender as exigências do Decreto n. 21.240 de 1932, que tornava obrigatória a exibição de filmes brasileiros, independente da metragem, nas salas de todo o país. Assim, a lei favoreceria os curtas. Localizados predominantemente no período silencioso, esses filmes após o advento do som, não desapareceram. De tal modo, muitas das produções dos Rex, de Gilberto Rossi, B. J. Duarte, Humberto Mauro e tantos outros continuavam sendo destinadas às antigas demandas. Identifiquei no trabalho de Maria Rita Galvão, "Crônica do Cinema Paulistano", uma virada historiográfica sobre o período silencioso paulista. O texto de 1975 registra as experiências de uma geração de cinegrafistas que produziram, sobretudo, filmes não ficcionais em São Paulo, até a década de 30. Sem dúvida, a leitura do livro tem possibilitado novas abordagens a respeito da história dessa produção fílmica em São Paulo e no Brasil. Associado às novas perspectivas metodológicas, a escrita da história do período silencioso e da produção não ficcional têm se intensificado, graças também ao restauro e a disponibilização pela Cinemateca Brasileira de alguns filmes – aqueles que não desapareceram. |
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Bibliografia | BERNARDET, J. Historiografia clássica do cinema brasileiro. 2ª ed. SP: Annablume, 2008.
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