ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Escuta, Encenação e o Problema do Real |
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Autor | Cecília Antakly de Mello |
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Resumo Expandido | A comunicação proposta é dedicada aos documentários contemporâneos The Arbor de Clio Barnard (Reino Unido, 2010), 24 City de Jia Zhang-ke (二十四城记, China, 2008) e Jogo de cena de Eduardo Coutinho (Brasil, 2007).
Em The Arbor, a diretora inglesa Clio Barnard lança mão de uma sofisticada combinação de recursos, técnicas e materiais de arquivo para investigar a vida trágica da dramaturga inglesa Andrea Dunbar e de sua filha Lorraine. A espinha dorsal do filme são as extensas entrevistas com membros da família de Andrea e especialmente com Lorraine, posteriormente montadas no formato de uma peça de rádio e dubladas/reencenadas por atores que encarnam na tela as figuras reais. Já em 24 City, o diretor chinês Jia Zhang-ke também lança mão da entrevista e do método da “escuta” como ferramenta de reconstrução de memórias individuais e coletivas. Mas esse é tampouco um método que garante a veracidade das informações coletadas. Apesar de sua afinidade com a escuta psicanalítica, a presença da câmera e da equipe transforma de imediato a natureza do depoimento, como bem ensina Ismail Xavier em relação à obra de Eduardo Coutinho (XAVIER, 2009). Ademais, Jia – assim como o próprio Coutinho em Jogo de cena, problematiza a reconstrução da memória ao incluir atores de forma indistinta entre os entrevistados reais, fazendo com que paire sempre uma dúvida acerca da legitimidade do que está sendo dito/ouvido. Assim, e a despeito da distância geográfica e da ausência de conexões temáticas diretas, gostaria de sugerir que esses três documentários seminais lançam mão de recursos similares relacionados à escuta e à (re)encenação como um modo de evidenciar a natureza fluida da memória (individual ou coletiva) e de discutir a relação entre arte e realidade no cinema documental contemporâneo. |
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Bibliografia | Bazin, André (1958), Qu’est-ce que le cinéma? vol. 1, Paris: Les Éditions du Cerf.
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