ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | ESTÉTICA (VISUAL E NARRATIVA) DOS PLANOS MORTOS DE SEGUINDO EM FRENTE |
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Autor | Mari Sugai |
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Resumo Expandido | O cinema japonês tornou-se conhecido no ocidente quando os cineastas Kenji Mizoguchi e Akira Kurosawa participaram de festivais de cinema na Europa em 1950. No final da década seguinte, as películas de Yasujiro Ozu são tardiamente “descobertas” pelo ocidente. Seu cinema era considerado “muito japonês” e menos “exportável” do que os de seus colegas, e por este motivo não houve empenho em exibi-las anteriormente.
Porém este panorama não é o encontrado atualmente, como assinala Ikeda (2012), ao afirmar que a situação hoje se inverteu, pois Ozu é cultuado fora do Japão, há inúmeras publicações sobre seus filmes, e as palestras e mostras realizadas em todo o mundo em torno do seu cinema aumenta gradativamente. O reconhecimento de Ozu e outros profissionais ‘abriram as portas’ para os atuais realizadores conterrâneos, entre eles, Hirokazu Kore-Eda, realizador de Seguindo em frente (Aruitemo aruitemo, 2008). O longa-metragem ficcional narra, durante o período de pouco mais de um dia, a reunião anual da família Yokoyama para recordar a morte do filho mais velho, que ocorreu quinze anos atrás, quando este morreu afogado ao salvar um garoto. Desta película pretendemos verificar os “planos de tempos mortos” ou pillow shots, que mostram a presença humana através de sua ausência nos recintos, ou seja, a espacialidade onde se passa a história (sendo em grande parte os espaços internos da residência do patriarca e matriarca). Estes enquadramentos “vazios” exibem os ambientes familiares, seus móveis e objetos atuando como componentes cenográficos, bem como elementos que possuem função narrativa, podendo representar, por exemplo, o passado, a memória e os desejos dos personagens. Os pillow shots também se encontram presentes em Era uma vez em Tóquio (Tokyo monogatari. Dir.: Yasujiro Ozu, 1953), filme com o qual faremos uma análise comparativa. Seguindo em frente apresenta como trama principal o cotidiano familiar, que se desenvolve sem grandes reviravoltas narrativas, pertencente a uma tendência do cinema contemporâneo asiático (semelhante ao iraniano, argentino, e alguns nacionais). Estes longas-metragens parecem estar produzindo um contramodelo de Hollywood, realizando filmes a partir de histórias retiradas de acontecimentos do dia a dia, e que são reconhecidos por serem humanistas e documentais, apesar de ficcionais (BAPTISTA; MASCARELLO, 2008). Tanto a narrativa quanto os personagens encontram-se presentes em determinados ambientes e cenários, conforme afirmam Gaudreault e Jost (2009, p. 105): “O espaço é um dado incontrolável que não podemos desprezar quando se trata de narrativa: a maioria das formas narrativas inscreve-se em um quadro espacial suscetível de acolher a ação vindoura [...]”. Para realizarmos a análise de Seguindo em frente, pertencente do gênero ficcional, utilizaremos as teorias de Rosenfeld (2011), especificamente quando o autor discute sobre a criação do enredo através do personagem, para que este possa habitar a história, e como os cineastas manipulam a realidade para construir a ficção e a caracterização do personagem, fazendo uso da linguagem cinematográfica. O cotidiano e os dramas familiares são a temática central e um dos pontos em comum entre os filmes de Kore-Eda e Ozu. Sobre o assunto, Ozu (apud Yoshida, 2003), Rosenfeld (1968) e Calil (2010) fornecem estudos relevantes. A narrativa audiovisual é registrada por meio de enquadramentos de câmera, que caracterizam a linguagem cinematográfica. Particularmente sobre a cinematografia de Ozu, o próprio realizador (apud Yoshida, 2003), Silva (2011), Nagib e Parente (1990) e o cineasta Yoshida (2003) produziram textos em que o assunto é destacado. Gaudreault e Jost (2009) são os teóricos que tratam da espacialidade, que serão relacionados com os “planos mortos” dos momentos em que personagens e/ ou acontecimentos estão presentes em determinados ambientes cênicos. |
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Bibliografia | BAPTISTA, M. Cinema mundial contemporâneo. Campinas: Papirus, 2008.
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