ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | A construção do olhar no horror found footage: um mapeamento inicial |
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Autor | Ana Maria Acker |
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Resumo Expandido | A proposta tem como objetivo apresentar impressões iniciais levantadas após a observação de 50 filmes de horror found footage, realizados entre 1998 e 2013 nos seguintes países: Coreia do Sul, Bélgica, México, Espanha, Estados Unidos, Brasil, Costa Rica, Inglaterra, Canadá, Austrália e Japão. Os filmes foram escolhidos a partir de lista organizada pelo professor doutor Rodrigo Carreiro.
Durante a assistência das produções, pequenas fichas com a descrição breve das mesmas foram organizadas, a fim de apontar recorrências, características narrativas e estéticas. Este processo empírico integra o andamento do projeto de tese de doutorado intitulado O Dispositivo no cinema de horror found footage, desenvolvido no PPGCOM-UFRGS. Há um uso recorrente de legendas explicativas no começo e final dos filmes - em 34 dos 50 assistidos isso acontece. Os textos, em geral, introduzem a trama, indicam onde se passa a história, se há alguma investigação sobre o caso, o que aconteceu com as pessoas retratadas na tela. As legendas servem para dar um valor de ‘verdade’ à obra para além do que é observado no pretenso aspecto de amadorismo das imagens. As informações que o espectador recebe relaciona essas produções com a linguagem jornalística, em especial, com os documentários produzidos por canais de televisão. É possível argumentar que esse recurso seja um esforço para atrair o espectador à trama, despertar curiosidade, uma vez que esses filmes podem encontrar dificuldades narrativas em função do uso da câmera diegética (CARREIRO, 2013). As imperfeições da imagem são fundamentais para a manutenção do aspecto documental e amador dessas obras. Nos filmes estudados, é comum a ocorrência de ruídos, interferências, movimentos bruscos, cortes na imagem e no som, desorientação do público nos momentos de tensão. Ou seja, os personagens em perigo fogem e levam a câmera ligada da forma que for possível. Jonathan Crary (2012) salienta que as imagens sintetizadas por computadores, tais como as de simuladores, ressonâncias magnéticas, realidade virtual, entre outras, de alguma forma “estão deslocando a visão para um plano dissociado do observador humano” (CRARY, 2012, p. 11). A função do olho está sendo substituída por práticas em que essas visualidades não mantêm mais uma relação com um observador em um mundo “real”, destaca o autor (2012, p. 12). Todavia, não é apenas o olhar dissociado do humano que guia essas produções. Na escolha de um ou mais pontos de vista para se contar a história, um aspecto reincidente chama a atenção: o uso constante da câmera subjetiva, sobretudo como mecanismo para ampliar ou antecipar instantes de horror dos personagens e, consequentemente, do público. Como salienta Arlindo Machado, o que vejo no cinema não é apenas o que é dado pelo recorte da câmera: “A minha percepção depende fundamentalmente do que eu adivinho na percepção do outro, do que eu suponho que o outro vê (ou não) e do que eu suponho que o outro sabe (ou não) que eu vejo” (MACHADO, 2007, p. 97). O entrelaçamento do olhar do público com o do personagem na tela cria um processo de identificação, muito em função da experiência estética de proximidade que tal recurso provoca. Conforme Zachary Ingle (2011), a câmera diegética difere da subjetiva, pois no segundo caso o espectador tem o ponto de vista do personagem, no entanto este não é o operador do equipamento. No caso da câmera diegética, ela está na narrativa e isso é de conhecimento dos personagens. Mesmo assim, é pertinente ponderar que há diferença entre os momentos em que o personagem filma a partir de seu ponto de vista e outros em que usa a câmera como se essa fosse a extensão de seu olho. Desta forma, podemos ousar dizer que há uma câmera diegética subjetiva nos filmes de horror investigados. Esse olhar expande as potencialidades do medo e observar a conexão entre o dispositivo e as formas de ver no cinema pode constituir um caminho de estudo para as produções de horror com essas características. |
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Bibliografia | CARREIRO, Rodrigo Octávio. A Câmera diegética: legibilidade narrativa e verossimilhança documental em falsos found footage de horror. Significação, v. 40, nº 40, 2013.
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