ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | A classe média e a proliferação das “globochanchadas” |
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Autor | Márcio Rodrigo Ribeiro |
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Resumo Expandido | Números divulgados pelo “Informe de Acompanhamento do Mercado 2013”, organizado pela Agência Nacional de Cinema (Ancine), órgão responsável pela legislação e fomento para o cinema no Brasil, indicam que das 10 maiores bilheterias de longas-metragens brasileiros lançados no circuito exibidor do País no referido ano oito são comédias.
Tal processo de “comedização” do cinema brasileiro recente teve início, com o lançamento em 2006, de “Se Eu Fosse Você”, dirigido por Daniel Filho, evidenciando a participação da Globo Filmes na coprodução direta ou indireta destes longas-metragens, o que levou o cineasta Guilherme de Almeida Prado, em 2008, de batizar de maneira irônica essas produções de “globochanchadas”. Além de normalmente serem estreladas por atores ligados à própria Rede Globo de Televisão, essas comédias também têm tido continuação, ou sequências, como é o caso de “Se Eu Fosse Você”, que em sua segunda parte ultrapassou os 6,1 milhões de ingressos vendidos em 2009 e, mais recentemente “De Pernas pro Ar”, que após alcançar mais de 3,5 milhões de bilhetes em 2010, atingiu a cifra de mais de 3,7 milhões de ingresso no circuito comercial em 2013 com sua continuação. Desde que “Nhô Anastácio Chegou de Viagem” estreou no Brasil, em junho de 1908, que a comédia sempre esteve presente na filmografia do País. Se o ciclo da chanchada, por exemplo, ocorrido entre a década de 1930 e 1950, levou os críticos a desprezarem esses longas-metragens que procuravam o riso fácil, o público sempre lotou as salas para assistirem a essas produções. Da mesma maneira, durante o final dos anos 1970 o início dos 1980 - quando a participação de bilheteria dos filmes brasileiros no circuito nacional chegou a superar a marca dos 30%, segundo a Ancine -, boa parte dos filmes que ajudavam a arrastar multidões às salas de cinema eram estrelados pelo quarteto “Os Trapalhões”, grupo de humor que durante décadas manteve um programa veiculado pela Rede Globo no horário nobre dominical da TV brasileira. O atual ciclo de comédias, portanto, não é um fenômeno inédito na história do cinema brasileiro, nem tampouco sua aproximação com estrelas da radiodifusão para colaborar na venda de ingressos do circuito exibidor. Novo é o fato de essas comédias recentes serem realizadas e pensadas em sua distribuição com o objetivo de atingir a classe média que - após a chegada dos complexos multiplex ao País, no final da década de 1990, ocupando, principalmente, os espaços elitizados nos shoppings centers das principais cidades do País - passou a ser o público-alvo do mercado cinematográfico no Brasil, demandando, portanto, o “selo” do padrão Globo Filmes de cinema para chancelar essas produções. Urge, portanto, entender esse fenômeno de comédias no cinema brasileiro atual para além de um fato isolado, mas sim como um artifício recorrente dos agentes de mercado – realizadores e distribuidores, principalmente - como uma forma de se aproximarem do público, especialmente de classe média brasileira, que tende a frequentar o circuito exibidor nacional em busca de entretenimento e diversão, normalmente encontrados em filmes estrangeiros, especialmente os produzidos nos Estados Unidos que, historicamente, dominam o mercado exibidor brasileiro com cifras que ultrapassam os 80% de ingressos vendidos. |
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Bibliografia | AMANCIO, T. Artes e Manhas da Embrafilme: cinema estatal brasileiro em sua época de ouro (1977-1981).
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