ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | FORMAS QUE CIRCULAM |
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Autor | Greice Cohn |
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Resumo Expandido | Esse trabalho reflete sobre a circulação das formas e dos gestos nas imagens em movimento, com especial atenção às imagens videográficas. Em resultado parcial da pesquisa de doutorado A Pedagogia da videoarte e a construção do olhar no ensino da arte (FE/UFRJ, orientação da Profª Adriana Fresquet e co-orientação da Profª Anita Leando - ECO/UFRJ), na qual partimos da premissa de que o vídeo é uma forma que pensa as imagens do mundo, (DUBOIS, 2011, p. 100), analisamos as relações entre três obras audiovisuais - La Région Centrale (1971), filme experimental de Michael Snow; Cachorrio (2012), vídeo do artista Pedro Guimarães, e O espelho e a tarde (2012), videoinstalação da dupla Dias & Riedweg – e o vídeo O Mundo circulando, produzido por estudantes do Ensino Básico do Colégio Pedro II, onde sou professora de Artes Visuais.
Realizado a partir da colocação de uma câmera digital na roda de uma bicicleta, O mundo circulando se revela como uma operação experimental e de risco para o próprio dispositivo, uma operação cuja motivação reside na própria imprevisibilidade da experiência. Enquanto na pista sonora se ouve uma versão instrumental da música Garota de Ipanema (Tom Jobim, 1962) a paisagem é constantemente revirada de cabeça para baixo, mostrando, nessa circulação, imagens do calçadão de Copacabana embalado pelo doce e também cíclico balanço de Jobim. O que está sendo proposto ali é uma imersão num fluxo giratório e incessante que avança numa espiral horizontal, jogando o espectador num vórtice canônico, onde a busca pelo reconhecimento do lugar comum cede espaço ao deleite de novas paisagens repletas de grafismos inesperados. Postes, barracas, latas de lixo, aparelhos de ginástica, árvores, rodas, céu, mar, tudo vem e passa, provocando um gradativo distanciar das coisas e dos sentidos que a elas são habitualmente atribuídos, fazendo o olhar do espectador rodopiar num estonteante e hipnótico balé de imagens, cujo balançado é mais que um poema, enchendo o mundo de graça. Se vivenciar uma experiência é, como ressalta Didi-Huberman (2013), deslocar o ponto de vista, esse deslocamento é a própria revelação que se opera nesse trabalho. Para Rancière, “as imagens da arte são operações que produzem uma distância, uma dessemelhança” (RANCIÈRE, 2012, p.15), e são as operações realizadas pelos cineastas que determinam a natureza artística do que vemos (ibid.), a partir do seu “regime de imagéité” (ibid, p.12). A ênfase no percurso, evocada na caminhada sem destino do rapaz perambula pelas vielas do complexo do Alemão carregando um espelho na obra de Dias & Riedweg; a vulnerabilidade imposta pelo atrelamento da câmera a um robô no topo de uma montanha de difícil acesso, no filme de Snow, e a busca por novos pontos de vista, materializada na colocação de uma câmera no dorso de um cachorro viralata, no vídeo de Guimarães, são operações que reverberam em O mundo circulando, desvelando uma circulação das formas no processo criativo com as imagens. As obras dos artistas formaram um pequeno “museu imaginário” (MALRAUX, 2011, p.13) na memória dos estudantes, um repertório resultante de um processo de seleção subjetivado que imprime em sua memória formas e propostas estéticas, e que se revela na própria maneira com que as imagens são problematizadas no seu vídeo. O mundo circulando sinaliza tensões e operações existentes nas obras dos artistas, confirmando “que a arte, num imenso jogo de correspondências, se copia de alguma forma o mundo real, não deixa, sobretudo, de aludir ao mundo das formas inventadas, configurando o museu e a biblioteca” (SILVA, 2002). Analisaremos detalhadamente nesse trabalho as obras dos artistas, identificando e ressaltando suas relações com o vídeo dos estudantes, sob o ponto de vista da análise formal e estética desses materiais audiovisuais. |
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Bibliografia | DIAS, Maurício & RIEDWEG, Walter. Dias & Riedweg. Até que a rua nos separe.
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