ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | ALEA & SEMBÈNE: Cuba e Senegal no questionamento da imagem eurocêntric |
|
Autor | Tiago de Castro Machado Gomes |
|
Resumo Expandido | Os meios de comunicação de massa sempre foram caracterizados pela predominância de um discurso dito eurocêntrico, ou seja, do discurso proveniente da Europa (e dos “neo-europeus” de outras partes do mundo) que partia do pressuposto de que em todos os aspectos da vida, o melhor e o mais correto era aquilo produzido e pensado por esses povos. Emergiu-se assim um sentimento fictício de superioridade dessas culturas e que, em parte, foi justificativa para a colonização de diversas outras nações por tantas décadas. Segundo Robert Stam e Ella Shohat, “com base ideológica comum ao colonialismo, ao imperialismo e ao discurso racista, o eurocentrismo é uma forma de pensar que permeia e estrutura práticas e representações contemporâneas mesmo após o término oficial do colonialismo” e que se mantém de certa forma quase intacta.
No cinema, alguns realizadores buscaram romper com a imagem eurocêntrica chamando a atenção para as realidades fora do eixo hegemônico europeu-norte americano e para a possibilidade de construção de outros discursos. Esse quadro foi mais intenso principalmente nas décadas de 1960 e 1970, reconhecidas como um dos principais momentos de lutas políticas e sociais. No cinema, movimentos e teorias como o "nuevo cine latinoamericano", o “terceiro cinema” e a “estética da fome” procuraram alternativas formais e de conteúdo que, de certa forma, contribuíram para a consolidação atual do pensamento de um mundo em teoria multicultural e transnacional. Dentre os principais nomes que buscaram um cinema alternativo que barrasse a influência cultural imperialista estão Tomás Gutierrez Alea, em Cuba, e Ousmane Sembène, no Senegal. Ambos reconheciam no discurso eurocêntrico um mal as suas respectivas sociedades e procuraram traçar estratégias que pudessem ao mesmo tempo conquistar e conscientizar o público. Em Cuba, o ano de 1959 marca a vitória da Revolução Cubana. O movimento liderado por Fidel Castro derrubou o governo de Fulgêncio Batista e acabou com as relações existentes com os Estados Unidos. A política cultural era uma das muitas prioridades do então recente governo revolucionário e o primeiro feito no campo cultural foi justamente a criação de um órgão voltado especificamente ao cinema: o Instituto Cubano del Arte e Industria Cinematográficos (ICAIC). Por esse motivo, “o cinema foi fundamental para a consolidação da imagem, dentro e fora do país, do governo instituído em 1959. Também foi determinante na construção de uma certa memória da Revolução e colaborou na conformação de uma identidade latino-americana na ilha” Em 1960, um ano após a vitória da Revolução Cubana, Senegal e diversas outras colônias francesas na África se tornaram enfim independentes - depois de décadas de lutas pela libertação e de estarem impedidos de produzirem seu próprio cinema. O início dos anos 1960 marca então uma virada na produção cinematográfica de Cuba e Senegal com os investimentos externos na África e a criação do ICAIC em Cuba. Os desafios pós-coloniais ou pós-revolucionários parecem ser as principais questões que interessavam a Alea e Sembène nas décadas de 1960 e 1970. Começa a surgir um pensamento mais definido em cada um deles sobre o papel da cultura, da arte e do cinema e sobre a luta contra o eurocentrismo e suas bifurcações. Enquanto Alea publicou diversos ensaios e artigos, reunidos em Dialectica del Espectador definindo uma proposta de cinema popular com a função de não somente entreter, mas transformar a realidade e melhorar a condição de seus iguais, Ousmane Sembéne, por exemplo, diz que “era necessário se tornar ‘político’ e envolvido com uma luta contra todos os males do homem... ou seja, todas as coisas que nós herdamos do sistema colonial e neocolonial.” . Em ambos, a imagem eurocêntrica era algo certamente a ser combatido. |
|
Bibliografia | ALEA, Tomás Gutiérrez. Dialética do Espectador. São Paulo: Editora Summus, 1984.
|