ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Canções ilustradas, um fenômeno moderno do cinema dos primeiros tempos |
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Autor | Ludmila Moreira Macedo de Carvalho |
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Resumo Expandido | Ainda que as pesquisas contemporâneas dedicadas aos fenômenos sonoros em relação ao cinema estejam avançando a passos largos nos últimos anos, pouco ainda se discute sobre o cinema dos primeiros tempos, período em que as complexas relações entre som e imagem foram fundadas. Pesquisadores como Rick Altman já conseguiram provar que aquilo que chamou-se de "cinema mudo" durante um longo período de estudos cinematográficos era, na verdade, raramente mudo - por outro lado, o que convencionou-se definir como "acompanhamento musical" tampouco corresponde à variedade e complexidade de fenômenos sonoros ligados aos primeiros anos do cinema. Com efeito, a ideia de acompanhamento musical como uma orquestra que toca música clássica ao vivo durante a projeção de um filme corresponde mais ao período pós-1915, ou seja, com o início da institucionalização do cinema narrativo, e não se aplica ao período chamado cinema de atrações, entre 1895 e 1915.
Fase extremamente heterogênea do cinema dos primeiros tempos, o cinema de atrações foi um período marcado pela interseção entre o elementos do teatro, da pintura e também da performance musical ao vivo, visto que os filmes eram, neste momento, apenas uma parte dos programas de entretenimento ao vivo das casas vaudeville e nickelodeon. Tendo isto em mente, Altman aponta para a existência de pelo menos quatro modos diferentes de relação entre som e imagem no cinema de atrações: silêncio durante o filme (música apenas nos intervalos e nos outros números de performance ao vivo); música ao vivo como efeito sonoro pontual; música ao vivo como comentário sonoro (não necessariamente acompanhando a narrativa); e filmes baseados em canções populares conhecidas, também conhecidos como canções ilustradas. Todos estes métodos eram utilizados ao mesmo tempo e sob condições completamente heterogêneas nas casas de projeção. Este trabalho irá se deter sobre o fenômeno tão curioso quanto desconhecido das canções ilustradas, que consistiam, grosso modo, numa performance musical de uma canção ao vivo, ilustrada por imagens de um filme feito especialmente para aquela ocasião. As canções ilustradas surgiram como fenômeno de lanterna mágica, em que slides fixos eram pintados à mão para acompanhar performances ao vivo de canções populares à época. Ainda que o estilo e natureza dos slides variasse muito de acordo com a música, os slides correspondentes ao refrão continham sempre a letra da canção e convidavam os espectadores a cantar junto. Com o aparecimento dos primeiros filmes, essa prática de acompanhamento musical rapidamente foi adaptada para o novo media, o que, naturalmente, trouxe algumas questões sobre a harmonização da música com imagens que não eram mais fixas, mas em movimento: que tipo de associações esta prática permitia? O que significava "ilustrar" uma canção com imagens em movimento? Até que ponto a natureza e a ordem das imagens eram determinadas pela letra ou pelo tipo de canção (estilo do cantante, gênero a que pertencia etc.)? O que podemos dizer a respeito da experiência do espectador, dividido entre uma performance ao vivo e imagens em movimento? Tendo existido brevemente, de 1905 a 1913 aproximadamente, as canções ilustradas são um fenômeno relativamente pouco estudado à luz dos estudos sonoros do cinema, o que contrasta, em primeira instância, com sua importância para a compreensão histórica do cinema dos primeiros tempos, visto que esta prática influenciou profundamente os modos posteriores de "casamento" entre música e imagem em todo o cinema narrativo pós-1915. Em segunda instância, as canções ilustradas podem funcionar como plataforma para a compreensão das relações entre música e imagem em outros medias, como o cinema experimental e o videoclipe contemporâneo, nos quais também há uma associação complexa e heterogênea entre imagens projetadas e performances ao vivo. |
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Bibliografia | ALTMAN, Rick, e ABEL, Richard (ed.). Sounds of Early Cinema. Bloomington: Indiana University Press, 2001.
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