ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | O início da legendagem no Brasil |
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Autor | Rafael de Luna Freire |
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Resumo Expandido | A historiografia consagrou a estreia de “A melodia da Broadway” na reabertura do Cinema Palácio Theatro, em 20 de junho de 1929, como o marco do início do cinema sonoro no Rio de Janeiro. Essa sessão inaugural teria sido um momento-chave não só para a exibição dos filmes sonoros, como também de sua distribuição no país. Afinal, o musical da MGM teria marcado o início da legendagem de filmes no Brasil (AUGUSTO, 1989, p. 76), contrapartida necessária para a compreensão dos filmes falados em inglês.
Em seu livro sobre as chanchadas, o jornalista Sérgio Augusto afirmou que “A melodia da Broadway” teria sido legendado em português por sugestão do fotógrafo italiano Paolo Benedetti. Entretanto, Augusto não apresentava nenhum dado que comprovasse esse pioneirismo ou alguma explicação sobre como essa legendagem havia sido feita. Por outro lado, o leitor presumia que imediatamente após ser inaugurada, a legendagem tinha se popularizado e se consolidado. Como iremos demonstrar em nossa comunicação a partir de informações coletadas na imprensa da época, a legendagem da cópia de “A melodia da Broadway” foi feita às pressas, no laboratório de Benedetti, após os primeiros dias de exibição do filme anunciado como “100% falado”. Mais importante ainda, a prática da legendagem não se estabeleceu como padrão comercial de distribuição de filmes sonoros naquele momento. Ao longo de 1929 e o início de 1930, os distribuidores continuaram experimentando as mais diversas formas de apresentar os talkies importados às plateias brasileiras, buscando uma conciliação entre a atração pela novidade da fala e o repúdio pela incompreensão do idioma. Uma alternativa experimentada foi a utilização de expediente comum às apresentações de óperas, tradicionalmente cantadas em italiano. Iremos apontar casos em que os filmes sonoros foram acompanhados da distribuição de libretos com as traduções dos diálogos, assim como as resistências e reclamações sobre essa prática. O mais comum inicialmente, porém, foi evitar a necessidade imperativa de compreensão dos diálogos para o deleite do filme sonoro pelo espectador brasileiro. Isso poderia se dar de diversas maneiras, como privilegiando a distribuição de filmes somente “musicados e sonoros”, mas não “falados”. Outra alternativa foi distribuir versões silenciosas e faladas do mesmo título, através da qual o pleno entendimento se daria assistindo à versão sem diálogos, sendo possível desfrutar sensorialmente da versão sonora, já conhecendo de antemão a narrativa. Essa mesma estratégia de “antecipar” a explicação da narrativa pode ser localizada nas cópias faladas que inseriam em seu início um prólogo com texto ou narração descrevendo o que seria a história do filme. A estratégia mais comum dos distribuidores, todavia, foi simplesmente inserir intertítulos escritos em português, substituindo as cenas dialogadas ou os intercalando a elas. Esse procedimento merece especial atenção por ter sido um dos mais frequentes e comentados pelos crítico antes da consolidação do que entendemos hoje como “legendagem”, ocorrida a partir de meados de 1930. Como forma de se diferenciar da prática mais comum no cinema silencioso, as legendas dos filmes sonoros foram chamadas de títulos ou letreiros “sobrepostos” ou “fotografados” sobre o filme. Tratava-se de não mais substituir os diálogos pelo texto escrito, mas sim sobrepor um ao outro. Ao invés de trocar ou alternar uma informação (verbal, em inglês) por outra (escrita, em português), elas passaram a ser oferecidas simultaneamente, ou melhor, sincronicamente. Um marco nesse processo foi o lançamento no Rio de Janeiro do filme “Alvorada de amor”, em 21 de abril de 1930, cujo processo de legendagem foi feito nos EUA, pela Paramount, diferentemente do que ocorrera no ano anterior com “A melodia da Broadway”. Ressaltamos, portanto, a diferente temporalidade do processo de conversão para o sonoro quando abordado do ponto de vista da distribuição, e não da exibição ou da produção. |
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Bibliografia | AUGUSTO, S. Este mundo é um pandeiro: a chanchada de Getúlio a JK. São Paulo: Companhia das letras, 1989.
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