ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | O cinema de gênero para a geração paulista dos anos 1980 |
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Autor | Gabriel Henrique de Paula Carneiro |
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Resumo Expandido | Nos idos anos 1980, o que importava, para a nova geração de cineastas paulistas, era fazer um cinema que se conectasse com o público, que dialogasse com ele, sem perder as características do cinema autoral. Era uma nova forma de se relacionar com o conceito ‘autor’ no Brasil, que deixou de ser estigmatizado pelo rompimento estético e narrativo, e passou a abranger também um cinema com marcas pessoais, próprias de seus idealizadores, independente de trabalhar com convenções narrativas. Por isso, o cinema de gênero. Afinal, não deixava de ser “uma ruptura com o gosto estético vigente em décadas passadas, em especial os anos 60/70. (...) A sensibilidade estética dos anos 80 é inteiramente voltada para trás, para os anos 40 e 50, onde irá encontrar o período áureo do classicismo inocente”, como aponta Fernão Ramos (1).
Tais filmes, muitas vezes, fariam referências a filmes policiais americanos, especialmente os noir, a filmes caipiras e sertanejos, a filmes de terror, a pornochanchadas, entre outros. O cinema de gênero é muito importante para compreendê-los, já que os filmes, em geral, eram repletos de citações e paráfrases - não só ao cinema, como à cultura pop daquele momento. Se tais filmes, em sua maioria, não são considerados como filmes de determinado gênero, é porque os longas, em geral, não trabalham o tom realista, e sim o farsesco, em que a carga de ironia faz com que os acontecimentos nunca pareçam sérios – ainda que sejam legítimos representantes de um gênero. O cinema de gênero, seja qual fosse o escolhido, era a base para a produção da geração conhecida como Jovem Cinema Paulista. A partir de três filmes bastante conceituados desse contexto histórico, pode-se perceber isso. Tanto "Estrela Nua" (1985), de Ícaro Martins e José Antônio Garcia, quanto "A Marvada Carne" (1985), de André Klotzel, e "A Dama do Cine Shanghai" (1988), de Guilherme de Almeida Prado, trabalham dentro do paradigma do cinema de gênero, utilizando as convenções de modo deveras criativo. "Estrela Nua", vendido como drama erótico, é um filme de horror, que trabalha com o tema do duplo, em que uma atriz é contratada para dublar outra que havia acabado de se suicidar e começa a se sentir perturbada pelo espírito da morta. “Ainda que não se pretendesse como um filme de gênero, não há dúvida de que ESTRELA NUA – e seus próprios personagens – dialogam com o universo do cinema de horror. Clichês como as aparições, a obsessão por imagens de pessoas mortas, gravadores que emitem vozes não gravadas” (2). "A Marvada Carne" parte de Cornélio Pires para fazer uma comédia caipira. “Foi nas mesmas raízes do Jeca do Mazzaropi que surgiu A Marvada Carne. A busca do humor popular, caipira”, afirma o cineasta André Klotzel (3). O longa narra a história de Nhô Quim, que busca uma noiva e comer carne de vaca, até conhecer Carula, que parece ser a solução para seus dois problemas. Ambientado no interior de São Paulo, "A Marvada Carne" recria, desde o cenário até à música, o ideal do universo caipira para sua comédia irônica. Por sua vez, "A Dama do Cine Shanghai" se furta ao mundo do policial noir para contar a história de um corretor de imóveis que entra numa enrascada quando uma mulher aparece em sua vida. O filme apresenta narração em primeira pessoa, a figura da femme fatale, a iluminação e a direção de arte típica dos exemplares norte-americanos que fizeram fama nos anos 1940 e 1950. Esse recorte de três filmes ajuda a compreender um contexto histórico: a vontade de conversar com um público amplo, de se fazer cinema popular, invariavelmente fez com que esses cineastas que faziam seus primeiros longas de ficção em São Paulo nos anos 1980 se voltassem para o cinema de gênero, ainda que todos apresentem características muito próprias de seus realizadores. 1 Fernão RAMOS, “A Dama do Cine Shanghai”, in O Cinema dos Anos 80, p. 303-5. 2 Laura CANEPA, Medo de quê?, 245-6. 3 Em entrevista para o autor, em 26/09/2009. |
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Bibliografia | AB’SABER, Tales Afonso Muxfeldt. A Imagem Fria: Cinema e Crise do Sujeito no Brasil dos anos 80. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.
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