ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Entre a Quality TV e a Complexidade Narrativa |
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Autor | Marcel Vieira Barreto Silva |
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Resumo Expandido | Os estudos das séries de televisão representam hoje um campo que envolve diversas abordagens teóricas, que vão dos estudos de recepção (agora também voltados para o consumo e a participação em rede), passam pelos estudos de fundo genérico (que se interessam pelos enquadramentos simbólicos entre canal, programa e telespectador através das categorias de gênero) e envolvem ainda investigações de cunho mais formal, seja na dimensão do estilo e da encenação, seja nos modos de construção da narrativa e da dramaturgia. Além disso, esse campo busca continuamente delimitar um corpus de programas que, dentro da ampla variedade de sintagmas televisivos em exibição, possa ser reconhecido a partir de suas especificidades de forma, contexto e consumo.
Na trajetória do campo, alguns conceitos foram importantes para aproximar as obras televisivas em série de campos da narrativa e da dramaturgia mais distintos culturalmente, como a literatura, o teatro e o cinema. Primeiramente, o conceito de Quality TV, ou seja, televisão de qualidade, criado por Robert J. Thompson nos anos noventa para analisar as séries dramáticas que se destacaram na década anterior, especialmente a partir da articulação entre produção independente e canais institucionalizados exigida por mudanças nas leis americanas relativas à produção televisual (o chamado Financial Interest and Syndication Rules, de 1970). Séries chamadas "de qualidade”, como Hill Street Blues, St. Elsewhere, thirtysomething, Moonlighting e Cagney and Lacey, viraram referência quando se trata dessa época, por causa de seus temas, seus estruturas narrativas, seus modos de abordagem, seus estilos de encenação. Como tais, representaram aparentes rupturas com uma tradição anterior, seja de estrutura mais episódica de matriz heróica/fantasiosa (as séries de aventura, suspense, faroeste, ficção científica), seja de amplitude mais folhetinesca, que se consolidaram na chamadas sopa operas de exibição diurna. Mais recentemente, outro conceito emergiu dos estudos de televisão para ajudar a entender aspectos específicos das narrativas seriadas nos anos 1990 e 2000: a complexidade narrativa, ou seja, um conjunto de estratégias discursivas identificadas por Jason Mittell como centrais para a criação de programas televisivos complexos, que tanto apresentariam modos narrativos novos (em comparação com a própria estrutura usual e repetida da série), quanto difeririam, por sua parte, de narrativa episódicas simples (com unidade de ação e fechamento de trama) e das narrativas de longo alcance, nesse caso, as soap operas. Como tal, o conceito de complexidade narrativa tem sido bastante utilizado, em diferentes matrizes nacionais, para analisar as mais diferentes séries contemporâneas. Comparando os dois conceitos, parece claro que ambos servem a objetivos semelhantes: destacar um conjunto de programas do grande universo de sintagmas televisivos exibidos diariamente e outorgar a eles um valor distintivo a partir dos procedimentos estilísticos utilizados em suas estruturas. Assemelha-se, dessa forma, a estratégias discursivas de validação das séries de televisão que se tornaram comuns nos anos 1990: isso não é televisão, é televisão de qualidade ou televisão complexa! Além disso, ambos os conceitos propõem categorias operacionais de análise que parecem não sobreviver a uma perspectiva comparativa. As perguntas que buscaremos responder neste trabalho são as seguintes: em que medida os conceitos de Quality TV e complexidade narrativa se aproximam e o que os afasta? A complexidade narrativa representa uma ruptura estilística da Quality TV, no que tange à evolução das formas narrativas seriadas? O que difere, na prática, narrativas complexas e de qualidade, de narrativas simples e imperfeitas? Talvez reavaliando o alcance metodológico desses conceitos e suas categorias, possamos apontar para análises mais abrangentes (e menos distintivamente preconcebidas) das séries de televisão de ontem e de hoje. |
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Bibliografia | ALLRATH, Gaby e GYMNICH, Marion. Narrative Strategies in Television Series. Londres: Palgrave MacMillan, 2005.
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