ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | A TETA ASSUSTADA E UMA NOVA SUBJETIVIDADE POLÍTICA NO CINEMA LATINO-AM |
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Autor | Edvânea Maria da Silva |
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Resumo Expandido | No final dos anos 60, apesar das ditaduras militares que atingiram os países latino-americanos, no Peru (assim como na Colômbia e Venezuela), os fundos estatais contribuíram para criar uma vigorosa cultura cinematográfica. Dentre as medidas adotadas nesse setor, King (1994, p. 283) destaca o aumento de impostos sobre a importação de materiais e equipamentos, e a exibição obrigatória dos filmes peruanos dentro do país.
Vale ressaltar que, como não havia uma tradição na realização de filmes de ficção (películas arguméntales), a área beneficiada imediatamente com essas medidas foi a de produção de curtas-metragens: mais de “700 curtas foram produzidos em uma década e projetados por todo país” (KING, p. 283). Outros “documentales”, muitos deles curtas-metragens, foram produzidos ao longo dos anos 70 e 80; a temática, em geral, tendia para a questão política. A questão política era a “razão de ser” do Nuevo Cine Latinoamericano (NCL): estética cinematográfica que pregava um “cinema lúcido, crítico, realista, popular, anti-imperialista e revolucionário, e que romperia as atitudes neocolonialistas e as práticas monopolistas das companhias norte-americanas” (KING, p. 102). La hora de los hornos (1968), de Fernando Solanas, é um exemplo desse nuevo cine. Hoje, principalmente no que diz respeito ao filme de ficção, há uma nova proposta de cinema político na América Latina. O afastamento, melhor dizendo, a adequação do cinema de protesto a um cinema de dimensão social tem suas raízes no contexto político-econômico em que se encontravam vários países da América Latina no final dos anos 70 do séc. XX. Essa adequação, entretanto, não é tão perceptível quando o assunto é o cinema peruano e soa-nos prematuro demarcar uma transição do cinema político engajado, se é que houve, para uma narrativa social em que é possível pensar o político a partir da experiência cotidiana das pessoas comuns. O contexto político do país andino nos anos 80 parece ter adiado em (quase) uma década, se não a “transição”, pelo menos, a abertura para novos diálogos, que não apenas o do cinema político engajado, como o da assunção de “qualquer um”. Nesse sentido, é compreensível que o tema da violência tenha dominado a telona e que tenha servido como caixa de ressonância para desenvolver as inquietações de cineastas sobre o tema do conflito armado e a violação dos direitos humanos (MORGAN, 2005, p. 55). Entretanto, em parte das produções do cinema latino-americano dos anos 2000, é possível constatar uma nova política: a do cotidiano do homem comum. Em A teta assustada (2009), filme de Claudia Llosa, a câmera volta-se para Fausta, uma indígena, personagem comum que busca romper com seu passado, com o que estava pré-estabelecido, com “todas as determinações objetivas que nos fixam, nos enquadram, nos identificam e nos fazem reconhecer” (DELEUZE, PARNET, 1998, p. 37). Ao fazer isso, o cinema realiza um gesto político. De acordo com Rancière (2010, p. 21), “A política consiste em reconfigurar a partilha do sensível que define o comum de uma comunidade, em nela introduzir novos sujeitos e objetos, em tornar visível o que não era visto e fazer ouvir como falantes os que eram percebidos como animais barulhentos”. Ao trazer à telona narrativas diversas a partir da vida de “qualquer um”, o cinema latino-americano propõe-nos uma nova subjetividade política, uma nova partilha do sensível, nova partilha porque rompe com o que estava pré-estabelecido. Embora essa seja uma discussão política, de modo algum ela é panfletária. Também não é político [o filme] “pelo seu modo de representar as estruturas da sociedade, os conflitos ou as identidades dos grupos sociais”; ele é político porque enquanto arte (ou forma de arte) opera “um novo recorte do espaço material e simbólico” (RANCIÈRE, p. 20). O objetivo deste trabalho é discutir uma nova subjetividade política em A teta assustada (2009), de Claudia Llosa; para tanto, propomo-nos a mirá-lo a partir do que ele suscita de poético. |
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Bibliografia | A TETA assustada. Direção e Roteiro: Claudia Llosa. Intérpretes: Magaly Solier, Susi Sanchéz, Efraín Solís. Produção: Claudia Llosa. Peru-Espanha, 2009. 1 DVD (93 min), son., col.
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