ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Assistindo a DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL em 2014 – que filme se vê? |
|
Autor | Maria do Socorro Sillva Carvalho |
|
Resumo Expandido | À época do lançamento no Rio de Janeiro, em março de 1964, Deus e o diabo na terra do sol causa verdadeira explosão no meio cinematográfico brasileiro. A crítica carioca, em sua grande maioria, reage entusiasticamente ao filme - por exemplo, Cláudio Mello e Souza afirma-o como “o maior acontecimento da história do cinema brasileiro”; para Sérgio Augusto, o filme “acrescenta ao cinema brasileiro o que Euclides da Cunha adicionou à literatura: a grandeza”; segundo José Lino Grünewald, aquele era “o maior filme brasileiro já realizado até hoje”; e Maurício Gomes Leite dizia que “Deus e o diabo na terra do sol é o ponto de encontro e de partida de todo o cinema brasileiro” (CARVALHO, 2003, p. 126). Ressalte-se, contudo, que esse significativo sucesso de crítica não correspondeu ao sucesso de público, sendo o segundo longa-metragem de Glauber Rocha um produto de difícil comercialização. Em meio às recentes homenagens para celebrar seus 50 anos, levei Deus e o diabo na terra do sol para ser visto por estudantes universitários, que deveriam registrar em texto suas impressões do filme, comentando sobretudo a experiência de assisti-lo. A intenção era problematizar a recepção desse filme da fase inaugural do Cinema Novo, agora não mais com espectadores próximos a seu espaço de realização, e sim em um espaço de recepção bastante diverso. Ou seja, não mais críticos especializados contemporâneos ao filme, mas jovens estudantes de Comunicação Social, declaradamente distantes da frequentação ao cinema nacional, com desconhecimento da dimensão de “alegoria histórica” da obra de Glauber Rocha, “o alegorista por excelência”, conforme Ismail Xavier (2005, p. 376). A partir da abordagem semiopragmática de Roger Odin (2005), interessa-me investigar a leitura dos estudantes como resultado de um “modo artístico” de ler o filme, isto é, vendo-o “como sendo a produção de um autor”, o mesmo modo lido pela crítica da época em que Deus e o diabo na terra do sol foi lançado. Ao longo dos depoimentos, partindo do repertório dos jovens espectadores, constata-se que outros modos de leitura são convocados, como o “modo energético”, quando esperam “vibrar ao ritmo das imagens e dos sons”, e principalmente o “modo documentário”, no qual o filme é visto “para obter informações sobre a realidade das coisas do mundo” (ODIN, 2005, p. 35-36). Meio século depois, Deus e o diabo na terra do sol tem novamente espectadores encantados (talvez por saberem antecipadamente tratar-se de um filme referencial para o cinema brasileiro), embora alheios às suas invenções formais. E a surpresa maior desse jovem público, em seu primeiro contato com a obra, vem do fato de o filme existir com tal relevância histórica apesar da precariedade técnica, segundo a leitura deles, formados que são pela televisão e por determinado cinema hollywoodiano, ambos caracterizados pela qualidade de som e imagem digitais, inclusive com a tecnologia 3D. Entender alguns deslocamentos feitos entre os dois espaços de recepção (em 1964 e 2014) – o impacto da inovação estética (um chamado à revolução pela forma do filme) dando lugar, hoje, ao valor da superação da pobreza técnica (como fazer um filme tão importante com tão poucos recursos técnicos) – é uma forma de conhecer melhor o lugar de Deus e o diabo na terra do sol como obra instauradora de um cinema moderno no Brasil. |
|
Bibliografia | ALBUQUERQUE JÚNIOR, D. M. A invenção do Nordeste; e outras artes. 4ª ed. rev. São Paulo: Cortez, 2009.
|