ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Do circo de aberrações ao zoológico do sexo. |
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Autor | Lucio De Franciscis dos Reis Piedade |
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Resumo Expandido | Dois bons exemplos da produção pornográfica brasileira dos anos oitenta são os filmes 24 horas de sexo explícito (1984-1985), de José Mojica Marins e O Viciado em C... (1984), da Dacar produções e dirigido por David Cardoso com o pseudônimo de Roberto Fedegoso. Filmes que com suas particularidades agregam os paradigmas das produções que viriam na segunda metade da década, quando o pornô produzido na Boca do Lixo esgotava a fórmula em busca de sobrevida, apelando para o bizarro. 24 horas de sexo explícito é o segundo filme com cenas pornográficas de Mojica. Antes ele tinha dirigido, contratado por seu parceiro Mário Lima, A quinta dimensão do sexo (1984), sobre dois estudantes de química que são alvo das chacotas dos amigos por terem a fama de impotentes. Acabam desenvolvendo uma fórmula que os torna garanhões insaciáveis, tomando um rumo trágico quando se tornam criminosos sexuais. Também partiu de Mário Lima a iniciativa para que rodassem outro filme do gênero. 24 horas de sexo explícito. A história parte de uma disputa entre três atores pornôs (Sílvio Júnior, Walter Laurentis e Antônio Rody), a partir de uma matéria que teria sido veiculada pelo jornal Notícias Populares sobre os “campeões do sexo explícito”, para ver quem conseguiria transar com o maior número de mulheres numa maratona sexual que duraria um dia. Período em que passariam em uma casa de praia e teriam como juiz da disputa um personagem homossexual, responsável por contar as gozadas de cada um, e que daria um discutível tom cômico no filme, sempre alvo de piadas jocosas e humilhações. A “recompensa” do juiz seria fazer sexo com o vencedor da disputa.
Reza a lenda que foi Mojica quem sugeriu que usassem um cachorro em cena, já que as atrizes contratadas eram tão feias que eles precisariam de uma atração a mais. Sequência que seria considerada a primeira cena de zoofilia do cinema brasileiro, o que vemos com ressalvas. Apesar de considerarmos que em 24 horas de sexo explícito (1984-85), realmente, esse tipo de relação ganha evidência, certamente não só pela publicidade envolvendo o filme e a notoriedade de José Mojica Marins, mas também pelo detalhamento e impacto maior das cenas. A produção se tornou um dos grandes fenômenos de bilheteria do ano e acabou ficando em cartaz, de acordo com os biógrafos de Mojica, por vinte semanas no centro de São Paulo. O Viciado em C..., o primeiro filme de sexo explícito produzido pela Dacar, trata de maneira escrachada duas grandes fixações brasileiras: a bunda e o sexo anal. Que já apareceram como tema de um dos primeiros filmes pornográficos: A B... Profunda (1983), de Álvaro de Moya (com o pseudônimo de Gerard Dominó). O filme tem como foco central o choque cultural de Zé Carlos, um caipira viciado em sexo anal que não consegue ter relações por outras vias, ao chegar na cidade grande. O filme, comentado de forma favorável na época, apresenta algumas cenas de sexo ousadas com impagáveis alusões a zoofilia (simulada) do personagem ainda adolescente em suas tentativas de copular com os bichos da fazenda, cenas que já fomentavam a onda de filmes de bestialismo que se avizinhava. Muitos outros filmes se dedicaram, nessa fase em que necessitavam concorrer com o produto estrangeiro, a consolidar o que podemos chamar de circo de aberrações do hardcore brasileiro lançando mão dos tópicos mais insólitos e, como sugere Abreu (1996, p. 86, 87), “explorar os limites das perversões introduzindo nos filmes o sexo bizarro. As aberrações que já se anunciavam desaguaram na zoofilia, filão praticamente terminal para o gênero no Brasil”. Ciclo, que segundo o autor, resultou em bons negócios. Das produções desse período e de acordo com a idéia de tentar identificar as “parafilias” mais recorrentes, consseguimos elaborar para um painel geral. Ficou claro, pelo grande número de obras dedicadas ao bestialismo ou zoofilia na segunda metade da década de oitenta até início da década seguinte, que esta foi a modalidade mais difundida e popular. |
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Bibliografia | ABREU, Nuno César. O Olhar Pornô: a representação do obsceno no cinema e no vídeo. Campinas, SP: Mercado de Letras, 1996.
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