ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | O DOCUMENTÁRIO AUTOBIOGRÁFICO NOS EUA E A ESCOLA DE CAMBRIDGE |
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Autor | Gabriel Kitofi Tonelo |
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Resumo Expandido | Pretendemos expor algumas questões relativas ao desenvolvimento do Documentário Autobiográfico nos Estados Unidos, dando ênfase à produção de cineastas vinculados ao Massachussets Institute of Technology (MIT) e à Universidade de Harvard. Reconhece-se na escola de Cambridge, terminologia proposta por Scott MacDonald (2013), um momento ímpar de concentração de alunos e professores que teorizaram e experienciaram questões relativas à escrita autobiográfica aplicada à narrativa documentária a partir da década de 1960.
Abordaremos a fundação do MIT Film Section, unidade de pesquisa e ensino cinematográficos vinculado ao MIT, em 1968, como ponto de partida para as questões tratadas. A unidade era centrada na figura de Ed Pincus e Richard Leacock, dois cineastas que viveram a virada epistemológica e metodológica do Cinema Direto nos EUA dos anos 1960. Reconhece-se na dupla esforços relativos ao desenvolvimento de tecnologias que possibilitassem o registro cinematográfico e com som sincrônico em equipes cada vez menores. A possibilidade de uma equipe de uma só pessoa (one-person crew) é sustentada por Pincus em um texto de 1972, intitulado “One Person Sync-Sound: A New Approach to Cinema-Vérité”. O método aprimorado por Pincus tornou-se básico para muitos estudantes que passaram pelo MIT Film Section a partir da década de 1970. O interesse de Pincus em um aparato fílmico que possibilitasse a experiência de filmar em apenas uma pessoa iria além de uma inovação técnica ou de questões orçamentárias. Graduado em filosofia e aportado conceitualmente na fenomenologia, a experiência de Pincus enfatizava a importância de um cotidiano visível como uma maneira de explorar a natureza da subjetividade e das interações humanas, que a câmera tem a capacidade única de retratar. O diretor via nas possibilidades tecnológicas ainda recentes (câmeras leves, som sincrônico e portátil) uma maneira através da qual um discurso autobiográfico poderia ser escrito no momento presente (LANE, 2002: 53), diferentemente do processo de construção da autobiografia literária que, em suas formas mais diversas (memórias, diários) sugere que seu autor esteja frente a frente com o passado para uma subsequente transcriação escrita. Seu projeto autobiográfico condensou-se em Diaries (1971 – 1976), filme diário de mais de três horas de duração, que influenciou muitos jovens cineastas (Mark Rance, Joyce Chopra, Ross McElwee, Jeff Kreines, Michel Negroponte, Alfred Guzzetti) que transitavam pelo MIT e Harvard na década de 1970 e que também dirigiram, posteriormente, filmes que partilhavam dos conceitos de autobiografia fílmica idealizados por Pincus. O engajamento com o presente e a dicotomia entre viver e filmar, tão presente em seu diário filmado, deu início a uma modalidade de documentário autobiográfico classificada por Lane como sendo de “Entradas de Diário” (Journal-Entry Approach), um tipo de documentário que envolve o registro de atividades cotidianas por um período de tempo e a subsequente montagem desses eventos em uma narrativa autobiográfica cronológica. Nesses filmes, é frequente que, como espectadores, assistamos aos eventos registrados como se eles estivessem ocorrendo pela primeira vez e no tempo presente (: 33). Finalmente, a produção da escola de Cambridge a partir de Pincus serve como subsídio para que tracemos algumas outras considerações a respeito do cruzamento entre a autobiografia literária e o cinema documentário. A partir dos conceitos de teóricos da autobiografia como Phillipe Lejeune (2008), e sua ideia de “pacto autobiográfico”, e Avram Fleishman (1983), buscaremos expor as preocupações narrativas, estilísticas e metodológicas dos cineastas de Cambridge nos anos 1960 – 1980, no que diz respeito à particularidade do documentário - nesse momento vinculado à virada epistemológica proporcionada pelo Cinema Direto - como suporte da exploração do mundo social a serviço da escrita de narrativas documentárias autobiográficas. |
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Bibliografia | FLEISHMAN, Avram. Figures of Autobiography: The Language of Self-Writing. Los Angeles: University of California Press, 1983.
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