ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Pode o realismo maravilhoso figurar temas da política contemporânea? |
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Autor | Simone Maria Rocha |
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Resumo Expandido | Para o dramaturgo Dias Gomes, que escrevia a primeira versão de Saramandaia em 1976, em plena ditadura militar, o absurdo fazia parte do cotidiano do brasileiro, de tal modo que não era possível entender este país sem levar em consideração essa conotação insólita. Inquietava ao autor a forma com que um contexto alastrado de dominação interna e uma consentida submissão externa era tratado de forma naturalizada e escamoteada em alguns produtos culturais, inclusive os televisivos. Em suas palavras “já disse que o Brasil é o país que desmoraliza o absurdo, porque o absurdo acontece. E não é possível entender e espelhar a nossa realidade dentro das regras do realismo puro” (GOMES, 2012, p. 98). Para ele, retratos desse Brasil marcado por um regime ditatorial, opressor e violento tinham que vir à tona de modo a provocar nas pessoas uma reflexão, um questionamento, uma perplexidade que fosse, sobre o que se passava em seu país.
Essa posição crítica conduziu o dramaturgo à escrita de seus textos sob outro registro, aquele que adota procedimentos estilísticos e estéticos inovadores na linguagem da televisão do período, pois, numa conjuntura marcada por um regime político fechado, relações políticas corruptas e inescrupulosas restava à crítica recorrer à metáfora, ao insólito, ao humor e ao exagero, em outras palavras, ao gênero do realismo maravilhoso. Assumo o realismo maravilhoso enquanto uma matriz estético-cultural definida por dimensões de ordem etimológica, lexical, literária, poética e histórica que o legitima como identificador da cultura latino-americana (CHIAMPI, 1973). O cenário de crise de meados do século XX provocou a rejeição da narrativa realista europeia, sobretudo no que tange à sua causalidade e continuidade linear. Frente a tal fato, os autores daquele Continente (CARPENTIER, 2010; GARCIA MÁRQUEZ, 1979) seguiram sua própria trilha para expor o choque cultural de uma América Latina encantada pela tecnologia vinda da Europa e dos Estados Unidos, bem como plural e diversa em virtude sua origem múltipla, repleta de crenças e de fatos históricos surpreendentes. Conquanto o contexto global e o regional tenham passado por transformações profundas, certos traços identificadores da América Latina, como a mestiçagem e o hibridismo, continuam fortes e presentes em muitos estudos, sobretudo nos desenvolvidos na área da comunicação e da cultura. E esse discurso da mestiçagem que nos constitui, assim como a narrativa do realismo maravilhoso operam na não disjunção dos contrários (moderno x arcaico; rural x urbano; real x irreal; natural x sobrenatural). Assim sendo, é possível pensar na pertinência dessa narrativa para tematizar questões hodiernas? De modo mais específico, a questão que norteia esse trabalho visa investigar se essa matriz estético-cultural medeia questões políticas inerentes ao cenário contemporâneo no qual emergem demandas por reconhecimento da pluralidade da vida social e da multiplicidade de grupos. Nesse sentido, indago sobre a figuração de uma política da diferença na versão de 2013 da telenovela Saramandaia tendo em vista que eventos da ordem do insólito e do estranhamento foram inseridos não para incomodar o espectador, mas, sim, criar metáforas, gerar reflexão e um entendimento mais amplo acerca da convivência entre as diferenças. Sendo assim, pergunto como, por meio das escolhas estilísticas (BUTLER, 2009; 2010; ROCHA, ALVES E OLIVEIRA, 2013) baseadas no realismo maravilhoso, esse tema abrangente foi apresentando em muitas sequências da telenovela. Quais são os símbolos, imagens ou metáforas que invocam um determinado sentido de diferença em Saramandaia? Quais seriam os recursos estilísticos adotados para expressar essa temática no interior da narrativa? |
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Bibliografia | BUTLER, J. Televison Style. New York & London: Routledge, 2010.
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