ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Documentário biográfico brasileiro: a ditadura militar revisitada |
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Autor | Cristiane Freitas Gutfreind |
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Resumo Expandido | Nesse trabalho, que faz parte de uma pesquisa que vem sendo desenvolvida desde 2009 com financiamento do CNPq, pretendemos analisar como os documentários biográficos contemporâneos produzidos no Brasil sobre a ditadura militar (1964-1985) se transformaram ao longo do tempo acompanhando as mutações da história que hoje está presente nos filmes mas também nas ruas do país. Esse percurso possibilita uma visão subjetiva da memória ilustrada pelos filmes sustentados em personagens cuja existência é legitimada pela história e constrói imagens que permitem compreendê-la, servindo de contraponto a história oficial e a uma busca sobre um aspecto do real que foi ocultado. Propõe-se uma reconstrução da história e mesmo uma intervenção do real por meio de produção de sentido e afetos.
Analisaremos, particularmente, um conjunto de documentários realizados, mais recentemente, por familiares próximos de militantes políticos, como Diário de uma busca (Flávia Castro, 2010), Marighella (Isa Grinspum Ferraz, 2011), Os dias com ele (Maria Clara Escobar, 2013), Em busca de Iara (Flávio Frederico e Mariana Pamplona, 2014). Nesses documentários há uma escolha estética diferenciada em relação aqueles realizados anteriormente de fundo mais informativo e convencional, sem a preocupação em problematizar o conflito histórico. Essa dificuldade pode se justificar pela maneira como a história se desenvolveu e a solução necessária, em determinado momento, para o seu entendimento. A unidade dos filmes mais atuais está em uma câmera que revela personagens não vitimizados como forma de entendimento de acontecimentos traumáticos. Ao se resgatar a fragilidade afetiva e a força ideológica do militante, a atualidade do político é demonstrada nessas narrativas. Esses documentários trazem a tona o passado que não passa e que continua a ter um papel fundamental no agenciamento coercitivo na sociedade brasileira atual. Esses filmes despolitizam a sua temática de maneira implícita e a (re)politizam de outra forma através da busca pela reparação afetiva que constrói uma crítica política. Por trás do desencantamento proposto dos personagens/militantes, o que se tem é o sonho irrepreensível de outro mundo, além de uma incontornável realidade de um fracasso que aparece na concepção profundamente trágica da realidade. A consciência devastada pela ruptura e marcada em nome de um projeto político utópico faz com que a política seja ressignificada na atualidade. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. A quoi pensent les films. Paris: Séguier, 1996.
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