ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Era uma vez uma voz: verônica |
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Autor | Fernando Morais da Costa |
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Resumo Expandido | Em Era uma vez eu, Verônica (Marcelo Gomes, Brasil/França, 2012) há uma narração em primeira pessoa, da personagem que dá título ao filme. Verônica grava sua própria voz, e a escutamos. Podemos ouvi-la no momento em que é gravada, podemos ouvi-la do ponto de escuta do pai, enquanto ele está em outro cômodo da casa que dividem. Podemos ouvir a voz da narradora sem que pareça estar ancorada na gravação: tal voz pode nos parecer um pensamento seu. À medida que o filme transcorre, podemos estar dentro da cabeça da personagem, com ou sem a mediação do gravador. Todas essas vozes criam uma série de relações, diversas entre si, com as imagens. Ao mesmo tempo, uma série de ações representadas pelas imagens é silenciada, e tais silenciamentos podem marcar pontos que sejam centrais para a trama, como uma conversa definitiva com o médico.
Era uma vez eu, Verônica se insere, assim, em um corpus de filmes contemporâneos que faz um jogo entre as presenças de vozes que tentam centralizar a narrativa e silenciamentos recorrentes das ações que vemos na tela. Para citar um exemplo, lembremos de Tabu, de Miguel Gomes (Portugal, 2012), filme que em sua primeira parte propõe ao espectador uma representação que se poderia dizer realista do cotidiano das três personagens femininas em Lisboa, até que surge um personagem masculino que, ao inscrever sua voz como a do narrador, desestabiliza a sonorização em particular e o modelo de representação anterior no geral. A partir da entrada da voz de Ventura, este seu nome, o som das ações se torna rarefeito, quando não desaparece por completo. O filme de Marcelo Gomes se transforma, para esta pesquisa, em um primeiro estudo de caso a ser apresentado na Socine, da proposta de estudos das relações entre vozes e silêncios no cinema contemporâneo. Quando assumimos a presença da voz nos filmes como objeto de estudo, questões que nos interessam tentar responder são: o que há em uma voz para se analisar para além do conteúdo semântico do que está sendo dito? Como influenciam na minha experiência como espectador ouvinte dessa voz a cadência, a relação entre palavras e pausas, o sotaque, a estranheza sensual dos fonemas pronunciados de forma que inscrevem um lugar de pertencimento em cada fala, o timbre; a presença material da voz enquanto som gravado: sua intensidade enquanto som em si mesmo, a equalização que pode ou não diferenciar texturas das vozes que narram por sobre as imagens daquelas que estão ancoradas nos espaços das ações? Como os silêncios criados em volta dessa voz realçam tais características? |
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Bibliografia | CAGE, John. De segunda a um ano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2013.
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