ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | BECOS E LENTES NUAS: UMA ETNOGRAFIA NA PERIFERIA DE FORTALEZA |
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Autor | Edvaldo Siqueira Albuquerque |
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Resumo Expandido | Tomando como foco as narrativas urbanas e a imagética produzidas por jovens da periferia de Fortaleza, esse estudo busca compreender em que sentido a produção audiovisual engendra processos etnográficos no âmbito do trabalho desenvolvido por ONGs que atuam em alguns bairros da cidade. A investigação se constrói assim no campo em que se expõem as imagens e sons destas comunidades, à maneira de como trabalham verdadeiros realizadores de uma etnografia.
Trata-se de pensar como a instrumentalização de recursos audiovisuais ou a produção de vídeos etnográficos podem ser utilizados como potências heurísticas numa compreensão socioantropológica do bairro, da cidade, de suas margens e juventudes. Ao mesmo tempo, tais imagens nos dizem das metodologias utilizadas por essas ONGs na condução dos processos de interação e capacitação para o audiovisual. Meu interesse, portanto, é abordar tanto as trajetórias de vida dos jovens que participam nesses projetos, quanto a trajetória dos gestores dessas ONGs com formação em Ciências Sociais. Vislumbra-se aqui analisar as formas de sociabilidade e memória dos coletivos que têm se constituído na periferia, buscando refletir tanto sobre o contexto sociológico de produção dessas entidades quanto a utilização do cinema documental como representificação, o que nos possibilita, pela via das relações diferenciais, a matéria prima para nossa investigação. Utilizando a tecnologia pertinente a este tempo, o vídeo digital, como instrumento propagador de experiências lúdicas de lidar com a cidade, os profissionais de formação sociológica foram chegando aos lugares nus, ermos, onde a tecnologia não alcançava, portando câmeras. Em que sentido tal experiência nos permite compreender o marcador sociológico denominado de periferia? Qual a relevância social de tal estudo? No horizonte deste trabalho, portanto, os itinerários da formação, por aproximação da antropologia, se convertem em um estudo de itinerários urbanos, de percursos da cidade, dirigido para fora do coração da metrópole. Propondo o contato inicial com o território das juventudes, entidades e coletivos guiam suas atividades por meio de metodologias próximas da antropologia visual. Vivenciando o cotidiano dos jovens, alguns dos formadores (dentre os quais eu me incluo) fazem perguntas do tipo “como vocês se divertem”, “onde se encontram para conversar”, “onde estudam” etc. A resposta, sempre dada em imagens, é o que interessa ao olho. Um olho, antes comiserado e caolho, às vistas do senso comum, como excluídos dos meios de produção. Por meio de tais intervenções e da produção coletiva de “fictiones”, busca-se “ler” seus códigos, regras, estilos e improvisações, como forma de “decupar” e interpretar os seus mundos. Essas etnografias é que nos permitirão circunscrever, por meio do trabalho sociológico com imagens, seu ethos, suas práticas de vivência do bairro e da cidade e seus estilos de vida. Levando-se em conta que os primeiros discursos videográficos são autobiográficos e de memórias vividas ou contadas pelos antepassados, em que sentido pode-se coar deles os ecos representificados da cidade? Uma cidade se constitui também pelo conjunto de recordações que dela emergem assim que o nosso relacionamento com ela é restabelecido. Falar de si e de seus círculos sempre abre o diálogo com o outro, atraindo outras opiniões e estratos, como num jogo de códigos urbanos. Trata-se assim de pensar a imagem como ponte e inteligibilidade sociológica dos lugares e das práticas dos jovens da periferia. |
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Bibliografia | BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura ( Volume 01). Trad.: Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo, SP: Brasiliense, 1994.
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