ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Blade Runners sonham com androides? – estudo entre cinema e quadrinhos |
|
Autor | Allana Dilene de Araujo de Miranda |
|
Resumo Expandido | Não é incomum que, em algumas narrativas, as personagens ganhem tanto espaço e desenvoltura que se tornem a força motriz do texto, servindo como meio “de adesão afetiva e intelectual do leitor” (CANDIDO, p. 54, 2005), revelando novos significados a cada leitura. Tendo em vista a importância dessa categoria para os estudos da ficção, esse trabalho se centra no estudo do protagonista Richard Deckard no filme Blade Runner: o caçador de androides (versão de 1992) e na história em quadrinhos Do androids dream of electric sheep?, sem versão brasileira, adaptada do romance homônimo de Philip K. Dick, e as formas de construção da personagem de ficção nas duas diferentes mídias.
Cada mídia tem maneiras específicas de construção de sentido, refletidas em diferentes mecanismos de construção de verossimilhança. O estudo não se deterá apenas à construção do enredo, procurando investigar também a categoria personagem, observando como as divergências e semelhanças atuam na caracterização do protagonista Deckard, um detetive que recebe a missão de “aposentar” androides foragidos que estão se escondendo na Terra. Além disso, será estudado ainda como a encenação atua como produtora de sentidos, nas formas como o ambiente é representado em ambas as versões estudadas. Em sua versão cinematográfica, Deckard é chamado de volta ao trabalho de caçador de recompensas pelos seus superiores. A recusa inicial, por parte do personagem, pode ser lida como um indicador de um senso de empatia em relação aos androides perseguidos. Nos quadrinhos, tal identificação surge no decorrer da narrativa, conforme Deckard, sempre bem disposto ao trabalho, segue com sua missão e passa a questionar a validade dela diante das situações com que lida: o que torna um androide menos humano do que ele mesmo? Há ainda outros elementos narrativos atuantes na construção de protagonistas diferentes em ambas as mídias: nos quadrinhos, tanto a presença do mercerismo como religião difundida quanto da manipulação das próprias emoções fala muito de uma sociedade na qual até a veracidade dos seus sentimentos é questionada. Na narrativa fílmica, tais elementos não aparecem, mas outros fatores atuam na construção de Deckard enquanto personagem. Podemos destacar a recorrência dos motivos de origami durante o filme, levantando a possibilidade de indução de memórias em Deckard, e a presença do androide Roy Batty, figura antagônica analisada à luz do doppelgänger (FRANCAVILLA, 1991), como o estranho que carrega muito de familiar em relação ao protagonista. Fatores como a linguagem individual de cada mídia também atuam como configuradores do personagem – os pensamentos de Deckard, suas suposições e teorias, ganham representações visuais, em conjunto com a narrativa verbal do romance. Tais expressões visuais permitem uma passagem mais natural para estados oníricos de pensamento, ocorrendo em vários momentos de questionamento da veracidade das experiências vivenciadas pelo detetive, e não têm equivalentes no filme, com exceção do sonho de Deckard com o unicórnio - visão que terá papel fundamental no questionamento acerca da natureza sintética ou orgânica do protagonista. Outro ponto importante de diálogo entre os dois textos é a encenação de futuros: o filme de Scott, concebido no início da década de 1980, traz a visão de futuro da ficção científica daquela época, como os anúncios em neon e a postura crítica diante do avanço tecnológico. A película apresenta também características comuns ao gênero noir, como as cenas construídas em contraste de luz e sombra. O quadrinho, publicado em anos mais recentes, traz diversos elementos visuais comuns ao filme, embora atualizados às tecnologias do século XXI. Procura-se, assim, construir uma análise pautada na intertextualidade entre as duas obras estudadas, centrando-se nos mecanismos de construção do protagonista Deckard e nas especificidades linguísticas que cada narrativa lança mão para fazê-lo, entre elas as categorias personagem e encenação. |
|
Bibliografia | AUMONT, Jacques. O cinema e a encenação. Lisboa: Texto e Grafia, 2008.
|