ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Paisagem, espaço e topofilia no cinema |
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Autor | Angela Freire Prysthon |
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Resumo Expandido | Algumas das primeiras imagens do cinema foram do mundo natural em movimento, cenas de rua e vistas de temas topográficos. Assim, o cinema podendo ser interpretado nesses primeiros tempos quase como um subproduto da indústria turística. Nesse sentido, parece-nos evidente a associação entre filme e paisagem. Encontramos em John Brinkerhoff Jackson uma das possíveis definições de paisagem: “uma porção de terra que o olho pode compreender à primeira vista” (1984, 1). Ora, o cinema está constantemente nos apresentando porções, pedaços de terra, enquadramentos que organizam e modelam nossos modos de compreender, processar e sentir o espaço. Os filmes, sobretudo aqueles mais claramente ligados ao registro de imagens do mundo natural e mesmo dos entornos urbanos, dariam forma às nossas percepções espaciais, constituir-se-iam em “paisagens” numa maneira similar à da pintura.
As relações entre paisagem e cinema são permeadas por nuanças que têm tanto a ver com a própria pluralidade do conceito (que fica ainda mais evidente quando nos confrontamos com as derivações do termo em inglês: landscape, cityscape, townscape, soundscape, etc), como pela centralidade da paisagem na composição de atmosferas e moods fílmicos, na construção de texturas. Alguns cineastas e autores buscam, inclusive, adensar o papel da paisagem no cinema para além de sua função decorativa ou contextual. Para estes, a paisagem cinematográfica se revelaria como uma instância de crítica do espaço (Keiller, 2013, p. 147), como um método de filmar, como um elemento primordial de encenação. Naturalmente, alguns gêneros cinematográficos são mais propícios que outros a essa conexão com a paisagem: o western, o road movie, o travelogue documentário, o épico, o cinema de época. Algumas recorrências estéticas do cinema moderno e contemporâneo também reforçam o nexo com uma poética do lugar, com uma afirmação particular do espaço. Pensamos em Antonioni, Wenders ou Jia Zhang-Ke, por exemplo, como representantes emblemáticos dessa linhagem. Porém, para além da delimitação mais sistemática e talvez óbvia das relações entre espaço e filme, interessa-nos encontrar mesmo nos gêneros mais distantes (o musical, o melodrama suburbano, o noir, a comédia) dessa tradição paisagística o que define a topofilia no cinema. Propomos pensar a topofilia não apenas como uma síndrome ou um excesso, mas como um amor pelo lugar que se manifesta de formas e intensidades variadas, um laço afetivo entre pessoas e espaços que revelam elos entre o ambiente e modos de ver e conceber o mundo (TUAN, 1990). Trabalharemos algumas manifestações específicas e diversas dessa topofilia no cinema, desde “Sei onde fica o paraíso” (I know where I am going, de Michael Powell e Emeric Pressburger, 1945), passando pelo clássico noir “Cinzas que queimam” (On Dangeroud Ground, de Nicholas Ray, 1952), por “O Deserto Vermelho” (Il deserto rosso, de Michelangelo Antonioni, 1964) e “Estranhos no paraíso” (Stranger than Paradise, de Jim Jarmusch, 1984), para concluir com três exemplos mais recentes: “Em busca da vida” (de Jia Zhang-Ke, 2006), “Na cidade de Sylvia” (En la ciudad de Syilvia, de José Luis Guerín, 2008) e “Robinson em Ruínas” (Robinson in Ruins, de Patrick Keiller, de 2010). A partir desse conjunto aparentemente desconexo e fragmentado, tentaremos compor uma genealogia (assumidamente imprecisa e incompleta) dos modos de funcionamento das paisagens no cinema. Ou como coloca Keiller, pensar a paisagem como: “O palimpsesto trágico-eufórico, a reciprocidade entre imaginação e realidade; o lugar visto em termos de outro lugar, a criação de um estado de espírito” (KEILLER, 2013, 30-31). |
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Bibliografia | BRUNO, Giuliana. Atlas of Emotion. Londres: Verso, 2002.
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