ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | A Construção do Realismo Sonoro no Filme Gravidade |
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Autor | Fabrizio Di Sarno |
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Resumo Expandido | Não há propagação de som no espaço, como anuncia o prólogo de Gravidade. O anuncio inicial estabelece um estrito compromisso do filme com o realismo sonoro, deixando inicialmente claro ao espectador que as cenas contextualizadas no ambiente espacial obedecerão à regra da física com relação a não popagação do som no vácuo.
Na história da ficção científica cinematográfica temos duas linhas distintas com relação a este tema. Primeiramente encontramos filmes com características hiper-realistas como Guerra nas Estrelas (Star Wars, George Lucas, 1977), onde o ambiente espacial é inundado com diversos tipos de sons, majoritariamente sons de explosões provocadas pela referida guerra espacial. Uma segunda linha contém filmes que se preocupam em não produzir sons no espaço, seguindo assim, uma perspectiva mais realista, como é o caso de 2001 – Uma Odisséia no Espaço (2001 – A Space Odyssey, Stanley Kubrick, 1968). Ao contrário da maioria dos seus antecessores, a maior parte do filme Gravidade se passa no próprio ambiente do espaço externo. Neste caso, o grande desafio é manter a dramaticidade da banda sonora sem quebrar o compromisso inicial com o realismo. O filme resolve este dilema com uma dupla estratégia. Em primeiro lugar, há uma quebra da relação visão/audição já estabelecida na cena inicial em que os astronautas são vistos em plano aberto. Nestas cenas, a visão do espectador é direcionada de fora, vendo os astronautas como se estivesse posicionado no espaço aberto. Contudo, a banda sonora se dirige para dentro do traje da Dra. Ryan Stone (Sandra Bullock), justificando os sons que ouvimos como provenientes deste ambiente interno específico. Esta regra irá permear todas as cenas de ambiente espacial do filme, recheando a banda sonora com diálogos, músicas diegéticas e os próprios sons dos impactos realizados fora do traje, mas que soam dentro do mesmo, incluindo os quase onipresentes sons da respiração e das batidas do coração da Dra. Ryam ditando o contorno dramático de cada cena. Apesar de que utilizado de maneira surpreendente, este recurso de separar a perspectiva sonora da visual não é propriamente novo nos filmes do gênero, sendo já explorado em filmes com o mesmo tema incluindo o de Stanley Kubrick referido. A segunda estratégia utilizada é bem conhecida na história do cinema. A técnica conhecida como Mickeymousing utiliza a música como representação sonora dos movimentos realizados na banda imagem. Impactos sonoros fortíssimos realizados por instrumentos de metais, cordas e percussão são frequentemente utilizados na trilha musical de Gravidade como meio de representação sonora dos eventos vistos. O objetivo é aumentar a dramaticidade das cenas de perigo que apresentam choques com destroços espaciais e outros elementos sem quebrar o contrato audiovisual realista inicialmente estabelecido. O som síncrono da música extra-diegética facilita a imersão do espectador sem a necessidade de criar um ambiente espacial fantasioso como o de Guerra nas Estrelas. O sistema Dolby Atmos, tecnologia criada em 2012, foi especialmente desenvolvido para tratar com fidelidade o posicionamento dos elementos sonoros na projeção dos filmes. Desse modo, os engenheiros de som de Gravidade foram capazes de sincronizar os ataques instrumentais da trilha musical com os eventos ocorridos na imagem, não apenas em termos de tempo, mas também, de espaço. Outro recurso sonoro bastante utilizado em Gravidade é o leitmotiv. A Dra. Stone é associada a um tema solitário, representado por linhas de vocal solo e efeitos com taça de cristal. Este timbre conhecido como Glass Harmonica, já se tornou conhecido na ficção científica, usado em filmes como Energia Pura (Powder, Victor Salva, 1995), Prometheus (Ridley Scott, 2012), entre muitos outros. Em Gravidade, o planeta Terra é quase sempre associado ao silêncio. Ao trazer a perspectiva do nosso planeta sendo visto do espaço, o filme finalmente retrata como realmente é o som (ou a ausência de som) no espaço. |
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Bibliografia | ALTMAN, Rick (org.). Sound theory – Sound practice. New York: Routledge, 1992.
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