ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | A crítica segundo a crítica latino-americana |
|
Autor | Eliska Altmann |
|
Resumo Expandido | “Talvez o desafio que o cinema agora propõe à crítica se encontre na aparente desnecessidade da crítica. Ela já não integra o espaço cinematográfico ou continua parte dele em outra forma, latente, ainda não revelada de todo” – a sentença proferida pelo crítico brasileiro José Carlos Avellar coincide com a sugestão de Terry Eagleton de que “à parte de sua função marginal de reproduzir as relações sociais dominantes, a crítica se acha quase que inteiramente privada se sua raison d’être”. Isto posto, o trabalho se baseia numa dupla análise: 1) no exame de discursos sobre o campo da crítica por autores das ciências humanas, que o analisam a partir de sua construção e institucionalização assim como de sua (suposta) desnecessidade; 2) um mapeamento sociológico do campo da crítica latino-americana, de modo a verificar como o mesmo é constituído por seus próprios agentes. Para tanto, utilizaremos como fontes primárias entrevistas, frutos de uma pesquisa realizada ao longo de sete anos, em quatro países: Argentina, Brasil, Cuba e México.
Com base em relatos e memórias, propomos explorar uma cartografia sociológica da crítica cinematográfica na América Latina a partir de quatro países. Com isso, faremos relações entre os próprios agentes que constituem os campos da crítica no continente e perspectivas teóricas sobre a crítica a partir de autores como Jürgen Habermas, Walter Benjamin e Roger Bastide. Por meio de uma sociologia dos discursos, utilizaremos como eixo analítico entendimentos sobre: a crítica como instituição, como uma das esferas a participar do processo de "artificação" de certos tipos e autores cinematográficos, e também como ela própria participa (e se insere) em um discurso ou gênero literário. Como críticos reivindicam seu ofício, de quais formas configuram sua prática escritural como linguagem e como verificam a desnecessidade da mesma são algumas questões norteadoras do argumento. Como resultado de primeiras avaliações discursivas, noto dois principais tipos formadores de gerações constitutivas dos campos nos países abordados. A começar pelos agentes “ilustrados” da década de 1960, influenciados pelo conceito de autor, vemos que não se formaram em cursos, mas em cineclubes. A consciência de pertencerem a um grupo social valorizado apoiava-se na ideia de estarem a serviço de um projeto criador. O controle e a articulação dos agentes garantiam regras e práticas que se legitimavam pelo propósito de dever dar suporte a determinado autor ou cinematografia. Essa ideia e a política por ela inspirada asseguravam um campo e, ao mesmo tempo, conferiam seu prestígio. No entanto, a partir do momento em que sofre transformações, o status do crítico, como parte de um grupo supostamente qualificado, passa a ocupar um espaço indeterminado, a meio caminho entre uma ilustração atuante e uma “contra-esfera pública desejável, mas inexistente” (Eagleton, 1991, p. 104). Não obstante a produção especializada e restrita, a crítica cinematográfica latino-americana experimenta um processo de democratização, ampliando-se pelo advento de novos espaços, como os meios eletrônicos, por exemplo. E aqui se encontra o segundo tipo descrito: os críticos das décadas de 1990 e 2000 que aprenderam lendo os trabalhos da geração anterior e se tornaram professores especializados de novos cursos de crítica e cinema. Estes últimos expressam opiniões diversas, tanto as que enfatizam o risco do hipotético fim da crítica, não obstante a sua amplitude em novos meios contemporâneos, quanto as que veem a pluralidade com otimismo, apontando para a riqueza da descentralização de padrões institucionalizados. Refletir sobre a crítica por meio de suas práticas e condições de circulação requer um exame dos fundamentos do trabalho sociológico no campo do cinema. |
|
Bibliografia | ALTMANN, E. Formação, campo e ocaso: registros da crítica cinematográfica na América Latina. Sociologia & Antropologia. Rio de Janeiro, pp. 296-311, junho 2013.
|