ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Assassinatos por encomenda: a sicaresca no cinema colombiano |
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Autor | Maurício de Bragança |
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Resumo Expandido | Esta comunicação pretende dar continuidade a uma pesquisa acerca das cartografias latino-americanas surgidas em torno do universo do narcotráfico e da criminalidade como dimensão cultural na indústria do entretenimento.
Nos anos 1990, surgiu um tipo de narrativa literária na Colômbia que trazia como personagem principal a figura do matador de aluguel, conhecido como sicário. Esta narrativa, centrada nos crimes relacionados ao narcotráfico que tomavam conta do país, reivindicava uma apropriação literária da realidade social, política e econômica, ao abordar o sicário como protagonista das histórias do mundo do crime decorrente do tráfico de drogas. Nesta cartografia, Medellín surge como uma cidade emblema de um universo repleto de contradições no qual a figura do sicário problematiza as complexas relações entre as fronteiras sociais, ganhando subjetividade a partir do imperativo do consumo. As personagens se apresentam por meio dos valores associados ao mercado de bens simbólicos e à organização social desenhada pelo narcotráfico, revelando as estratégias do consumo como mobilizadoras do discurso da ostentação. “Com a narco.cultura surge outra divisão social do trabalho: sicário ou o jovem disposto a morrer para sair à frente; a rainha da beleza ou mulher-troféu que exibe o poder do dono; o patrão ou chefe, que é aquele que dá ordens e distribui justiças e êxitos; a Virgem Maria que dignifica e justifica os sicários, rainhas e patrões” (RINCÓN, 2013, p. 196). O narcotráfico surgia, então, como argumento estruturante da narrativa literária colombiana ao final do século XX, construindo as bases deste repertório que, fugindo das alegorias do realismo mágico, apresentava um relato que, segundo a pesquisadora Margarita Jácome (2009, p. 23), “subvierte varios elementos narrativos de los géneros testimonial y documental”. Nesta perspectiva, o narcotráfico detonou, na Colômbia, uma verdadeira revolução cultural (ÁLVAREZ GARDEAZABAL, 1995), capaz de incomodar a sociedade burguesa, a sociedade letrada e a sociedade política, segundo Omar Rincón (2013). Estas narrativas ganharam importância no mercado editorial colombiano e criaram uma espécie de subgênero denominado pela crítica como la sicaresca. Nesta comunicação, apresentaremos uma discussão em torno dos sicários a partir de dois filmes adaptados da literatura sicaresca: La virgen de los sicarios, de Barbet Schroeder (Col/Fra/Esp, 2000) e Rosario Tijeras, de Emilio Maillé (Col/Mex/Esp/Bra, 2005). O primeiro é uma adaptação da polêmica obra de Fernando Vallejo, publicada em 1994, enquanto Rosario Tijeras é originalmente um romance de Jorge Franco de 1999 que, além do filme abordado nesta comunicação, deu origem também a uma série da televisão colombiana de 60 capítulos intitulada Rosario Tijeras – amar es más dificil que matar. A figura do sicário problematiza o esgotamento dos horizontes morais e legais ao tratar do tema da violência, abrindo a possibilidade de se pensar o mundo do crime, dos delitos e das contravenções por uma perspectiva cultural, a partir de um narcoimaginário e de políticas de reconhecimento coletivo no âmbito social (BRAGANÇA, 2012). É importante pensar esta personagem a serviço de uma narco.estética (RINCÓN, 2013) presente não apenas neste repertório de romances e filmes, mas também numa extensa produção que circula na indústria cultural, não apenas na Colômbia mas em grande parte da América Latina. Nossa perspectiva se aproxima da leitura do jornalista e escritor chileno Cristian Alarcón ao dizer que “la violencia no es simplemente un síntoma de cierto malestar en la fase final de una serie de exclusiones, sino que se ha convergido globalmente en una forma de construir sentido” (ALARCÓN, 2013). Assim a ênfase dessa abordagem recai sobre uma dimensão cultural que transcende a perspectiva local, ou a uma simples referência às práticas de exclusão, para abarcar todo o conjunto da sociedade numa perspectiva plural, dialógica e complexa. |
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Bibliografia | ALARCÓN, Cristian. “Es un cliché hablar de una cultura villera ligada al delito”. Entrevista a Cristian Alarcón. Miradas al sur. Año 6, edición número 280, 29 septiembre 2013. Disponível em http://sur.infonews.com/notas/entrevista-cristian-alarcon-periodista-y-escritor-es-un-cliche-hablar-de-una-cultura-villera-l acesso 16/04/2014.
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