ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Entre o audiovisual e a educação: o coletivo em um filme de oficina. |
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Autor | Marcio Blanco |
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Resumo Expandido | A proposta deste trabalho surge de uma evidência reiterada ao longo de 07 anos fazendo a curadoria da Mostra Visorama que integra o Festival Visões Periféricas. Esta Mostra é dedicada a filmes produzidos em projetos de formação que trabalham na interface entre os campos do audiovisual e da educação. Em muitas funções de equipe que constam na ficha de inscrição dos filmes figurava o termo “coletivo”, geralmente associado a função direção mas que também podia ser encontrado em outras funções como roteiro e produção. Apenas para marcar a relevância dessa constatação, em três anos (2010 a 2012) foram encontrados no banco de dados do festival 101 filmes inscritos onde consta o uso do termo “coletivo” no campo direção.
O curta-metragem “No Limite do Horizonte” (2011) faz parte dessa amostragem. Ele foi produzido pela oficina de audiovisual do Núcleo de Arte Grécia (NAG) em parceria com o cineclube Subúrbio em Transe. O NAG fica em Vila da Penha, subúrbio do Rio de Janeiro, e funciona como um espaço de extensão educacional da rede municipal de ensino atendendo um público que vai dos 08 até os 17 anos de idade. O núcleo possui diversas oficinas, dentre elas a de audiovisual. No site do NAG essa oficina é descrita como um lugar onde os alunos poderão realizar suas produções audiovisuais, através do “seu próprio olhar e vivência”. A descrição também coloca a importância de se realizar aulas passeios em que os alunos “possam perceber e compreender o espaço geográfico onde eles moram e comparar com outras localidades”. “No Limite do Horizonte” conta a história de Marta, uma jovem que mora no subúrbio e está prestes a se casar. O filme acompanha o cotidiano da personagem pelas ruas da região, se relacionando com seus moradores e eventos locais. Ele é todo ambientado em locações na zona norte da cidade e conta com a participação no elenco de alguns moradores interpretando a si mesmos, confundindo os gêneros ficção e documentário no filme. Após finalizado o filme foi inscrito como “direção coletiva” na mostra Visorama do Festival Visões Periféricas de 2012. A produção de “No Limite do Horizonte” se dá no cruzamento entre dois campos, o do audiovisual que em geral estabelece uma maneira de organizar os créditos de uma obra com base na experiência dos realizadores, pessoas físicas. E outro, o da educação que presume que o público alvo da oficina onde o filme foi realizado não tem experiência com a produção de filmes. O encontro entre esses dois campos tem como efeito produzir ações por parte de todos os envolvidos com o ensino-aprendizagem da oficina ao mesmo tempo em que propõe modos de sentir e induzem processos de subjetivação (GUATTARI, 1992). Para efeito deste trabalho considera-se um rastro desses processos a forma como a direção é designada nos créditos do filme no catálogo do Festival Visões Periféricas. O termo “coletivo” não será considerado uma essência cujo significado possa ser compartilhado de maneira unívoca em outros filmes onde ele aparece. O termo emerge como tal no interior de um regime enunciativo que envolve oficina, escola, território, festival, etc.. Sua investigação apoia-se metodologicamente na Teoria Ator Rede de Bruno Latour e irá traduzir uma maneira dos integrantes da oficina se relacionarem, por meio da produção de “No Limite do Horizonte”, com o espaço do subúrbio carioca. Os enunciados que organizam a figura discursiva presente na direção de curta têm muito a dizer sobre a relação ensino-aprendizagem da oficina onde “No Limite” foi produzido e os processos de subjetivação que tal relação implica. As linhas de força que atravessam a realização do filme em questão fazem emergir o termo “coletivo” na direção e propõe novas formas de percepção do espaço por meio da produção audiovisual. Ao mesmo tempo essa operação tem um impacto na estética do filme que nesta pesquisa será observada em função de suas condições de aprendizagem, produção e visibilidade (formas de circulação e de legitimação). |
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Bibliografia | BERNADET Jean-Claude. O Autor no Cinema. São Paulo: Edusp, 1994.
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