ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | “Fecharão todos os cinemas do Brasil?” (enquete de Pedro Lima em 1931) |
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Autor | Carlos Roberto de Souza |
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Resumo Expandido | Do final de outubro de 1931 até o mês seguinte, o Diário da Noite (Rio de Janeiro) publicou 12 grandes matérias encimadas pelo título “Fecharão todos os cinemas do Brasil?”. Seu autor era Pedro Lima que, afastado de Cinearte em abril de 1930, começa a escrever para alguns órgãos dos Diários Associados, e responde pela página de cinema do Diário da Noite.
O motor principal para esta série de reportagens era o movimento empreendido pelas agências das grandes distribuidoras americanas para que o governo brasileiro baixasse radicalmente as taxas alfandegárias que vinham encarecendo a importação dos filmes que abasteciam o mercado nacional. A crise econômica que vinha se acentuando no Brasil desde meados da década de 1920 acelera-se exponencialmente a partir da quebra da Bolsa de Nova Iorque em outubro de 1929. As medidas restritivas tomadas pelo Governo Provisório de Getúlio Vargas com vistas a evitar a derrocada econômica nacional incluíram a desvalorização do mil réis, a restrição às importações e o controle – em alguns momentos a proibição – da remessa de divisas para o exterior. Tudo isso teve consequências profundas na vida cotidiana dos brasileiros. No terreno especificamente cinematográfico, houve uma retração na frequência aos cinemas, apesar do baixo custo das entradas comparativamente aos preços praticados, por exemplo, nos Estados Unidos e na Europa. Vale lembrar que esse período coincide com a chegada dos primeiros filmes sonoros e falados ao Brasil e que os últimos eram falados em inglês, sem nenhum processo estabelecido para a tradução dos diálogos. Isso resultou – após em período de curiosidade pela nova tecnologia – em um estranhamento e afastamento do público. Ao mesmo tempo, a adesão total de Hollywood à produção sonora – para atender à sua demanda interna – implicou em que ficassem momentaneamente descuidados os produtos destinados ao mercado externo de língua não inglesa. Em diversos países, no Brasil inclusive, isso provocou uma política de reprises que também não estimulava o público. Dessa forma, é num mercado cinematográfico em estado de confusão que Pedro Lima elabora as reportagens objeto desta comunicação. O cronista entrevista as principais figuras das agências estrangeiras em atuação no Brasil: a Paramount, a Fox, a Universal, a United Artists e a Metro-Goldwyn-Mayer; Júlio Ferrez, dos cinemas Pathé do Rio de Janeiro, também importador; Francisco Serrador, então ainda o principal exibidor do Rio e de São Paulo; publica uma carta da produtora e atriz Carmen Santos sobre o assunto, e a de um leitor engajado, que questiona a ênfase com que são defendidos os interesses dos importadores de filmes. Diversos temas são abordados na série de artigos, da crise provocada no mundo cinematográfico pelo advento do cinema sonoro à incapacidade da produção brasileira de abastecer o mercado. Algumas informações ventiladas são relevantes sobretudo para melhor compreendermos como funcionava o mercado cinematográfico no Brasil, assunto em geral pouco tratado em nossos estudos sobre cinema. Cabe lembrar ainda que as reivindicações dos importadores de filmes eram coordenadas pela Associação Brasileira Cinematográfica, fundada em 1927, única entidade cinematográfica organizada no Brasil até o início da década de 1930. A poderosa classe dos exibidores apenas em 1933 criará seu sindicato, e a primeira organização de classe ligada aos interesses da produção cinematográfica somente em 1934 tomará forma na Associação Cinematográfica dos Produtores Brasileiros. Em 1931, a ABC falava não só em nome das agências das produtoras estrangeiras que a haviam criado, como também em nome dos exibidores brasileiros e chegava paradoxalmente a incluir em suas reivindicações coisas de interesse da própria classe produtora nacional. A série de artigos objeto da presente comunicação nos parece uma boa oportunidade para tentar compreender como se dava a articulação econômica do mercado cinematográfico brasileiro em um momento específico. |
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Bibliografia | Prado Júnior, Caio. História Econômica do Brasil. São Paulo: Editora Brasiliense, 1967 (10ª edição)
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