ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | A Narrativa Expansiva no Cinema: Da Serialização à Transmediação |
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Autor | Francisco Merino |
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Resumo Expandido | A narrativa expansiva é uma estratégia que pressupõe a adição de elementos da história – eventos e existentes – e a expansão do mundo narrativo, tanto numa vertente mono-mediática como transmediática.
A possibilidade de expandir uma narrativa é comum a todos os formatos e géneros, dos romances de cavalaria às modernas séries televisivas. Porém, alguns meios especializaram-se ou desenvolveram estratégias de expansão, enquanto outros, pelo contrário, realçaram a singularidade da obra e do mundo narrativo nela representado. A literatura, por exemplo, apesar da prevalência da obra singular no romance, convidou ao estabelecimento de géneros ancorados na expansão, como o romance policial ou a ficção científica, e a sua articulação com a imprensa periódica gerou o folhetim literário. A televisão, por outro lado, tem apostado no desenvolvimento de arcos narrativos persistentes em quase todos os seus formatos narrativos, uma técnica tradicionalmente restrita à telenovela ou à mini-série. O cinema, por sua vez, caracteriza-se por uma relação mais ambígua com narrativa expansiva. A aplicação da serialização no cinema de atrações é geralmente atribuída às limitações do dispositivo e ao estado embrionário da linguagem fílmica. Séries cinematográficas como What happened to Mary (1912 -1913) e The Three Musketeers (1911) demonstram menos as propriedades narrativas do meio que as dificuldades intrínsecas à imaturidade do seu código e ao desenvolvimento de enredos complexos através de um número reduzido de bobines. O cinema clássico, cuja estabilidade dos modelos de representação é enfatizada por David Bordwell, fundou um sistema de produção e um modelo narrativo que decorriam precisamente da lógica da obra singular. Todos os aspetos da produção cinematográfica, da gestão financeira ao planeamento logístico, estavam subordinados à fórmula do filme singular. As séries cinematográficas que habitam o cinema clássico, em que podemos incluír James Bond, os irmãos Marx, Abbot e Costello ou Totó não se baseiam no estabelecimento de arcos narrativos unificadores, mas antes na invocação de padrões como o reconhecimento e a repetição. O advento do blockbuster, em meados dos anos de 1970, permitiu, através da sequela, a articulação da obra singular com a expansão narrativa. Ainda que a sequela permaneça vinculada à lógica da obra singular, dotando cada filme de um desfecho conclusivo e de um enredo próprio, permitiu o desenvolvimento de mundos narrativos complexos, como os de Star Wars, Regresso ao Futuro ou mesmo The Godfather. Alguns blockbusters começam mesmo a promover técnicas de continuidade narrativa, como o cliffhanger, que estavam manifestamente ausentes em séries cinematográficas como James Bond. Atualmente, tal como Frank Rose e Henry Jenkins realçam, a expansão narrativa tem passado, sobretudo, pela utilização de múltiplos meios. Esta tendência é notória na construção do universo narrativo Marvel, que congrega tanto os filmes das séries cinematográficas Homem de Ferro, Incrível Hulk, Thor e Os Vingadores como a série televisiva Agents of S.H.I.E.L.D.e diversas novelas gráficas. Henry Jenkins identificara já esta estratégia transmediática em Matrix, considerando-a um dos produtos mais notórios da convergência mediática A narrativa expansiva tem assumido uma preponderância crescente em sistemas narrativos decorrentes da convergência de meios. Enquanto estratégia, a narrativa expansiva postula a relevância de todos os elementos narrativos, independentemente da sua funcionalidade no enredo, e a participação do espetador numa narrativa em permanente construção. O nosso objetivo é identificar a forma como o cinema conjugou a lógica da obra singular, que está subjacente ao seu próprio modelo de produção, com a expansão da narrativa e, mais recentemente, a transformação do filme na peça central de uma estratégia narrativa que integra diferentes meios. |
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Bibliografia | Bordwell, David. (1992). Narration in the Fiction Film. London: Routeledge.
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