ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Cinema e teatro no brasil e na argentina na virada dos 60 para os 70 |
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Autor | Estevão de Pinho Garcia |
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Resumo Expandido | Na passagem dos anos 1960 para os 70 encontramos uma intensa interface entre o cinema moderno - em sua fase de reavaliação e redefinição – e o chamado Teatro de Vanguarda(INNES, 1992) ou Novo Teatro (MARINIS, 1987). Importantes encenadores vanguardistas europeus como Peter Brook ou Fernando Arrabal expandem e intensificam para o cinema procedimentos estéticos e discursos ideológicos já fecundados na mis-en-scène teatral. Filmes como Marat/Sade(Brook, 1967)e Viva la muerte(Arrabal, 1971)mostraram ao mundo o salto estético que o cinema moderno ainda teria a ganhar por meio da ampliação de seu diálogo com as práticas cênicas renovadoras oriundas do teatro. No entanto, a incursão do campo teatral no campo cinematográfico não se restringe à migração de conceitos estéticos, estilísticos e cênicos do primeiro para o segundo e inclui também a adoção de determinados modos de produção.Grupos teatrais como o Living Theatre de Julian Beck e Judith Malina, o Oldin Theatre de Eugenio Barba e o Bread and Puppet de Peter Schumann acreditavam na criação coletiva em detrimento do comando soberano do diretor e do sistema de hierarquias rígidas no âmbito da criação artística. A ideia da comunidade artística, onde todos morariam e criariam em um mesmo lugar, entra em conjunção com a utopia de viver à margem da lógica do mercado. Tais grupos negavam anarquicamente o profissionalismo artístico e recusavam a compreensão da arte como mercadoria. Queriam arrancá-la de seu aspecto vendável e comercial, próprio de sua absorção pelo sistema capitalista. Se o capitalismo promovia a espetacularização total das relações sociais, a arte e o teatro deveriam, como instâncias superiores, articular exatamente o contrário. No campo cinematográfico, surgiram coletivos que emularam, em maior ou menor medida,essas práticas. Entre os mais conhecidos podemos citar a Intentona Situacionista de Guy Debord,o Grupo Dziga Vertov de Jean-Luc Godard e Jean-Pierre Gorin,o Grupo SLON de Chris Marker e o Grupo Zanzibar de Philippe Garrel.Em todas essas dinâmicas teatrais e cinematográficas, em maior ou menor grau, constatamos a ideia da comunidade artística, a defesa de processos criativos coletivos e o embate estética/ideologia versus mercado. É curioso notar que até mesmo nos grupos em que a vontade de substituir a assinatura individual pela coletiva era maior, a autoria sempre era atribuída a uma ou, no máximo, duas pessoas. A tensão estabelecida entre criação coletiva e marca autoral era sentida em todas essas tentativas de criação comunitária. A intenção em situar-se fora do sistema capitalista e de seus estímulos competitivos resultou ser mais complexo do que o esperado. Na América Latina do pós-1968, o cinema moderno também lançou mão do diálogo com o teatro de vanguarda como um dos caminhos para cortar o vínculo com os seus antecessores “engajados” e para pensar uma nova maneira de articular cinema e política. Nos casos específicos das cinematografias brasileira e argentina o nosso foco de análise residirá nos casos do coletivo brasileiro Belair e do coletivo argentino CAM. Ambos romperam com os movimentos que os antecederam, o Cinema Novo brasileiro e o cinema militante argentino, respectivamente. Ambos acreditaram na ideia de que o alto grau de preocupação de um filme com a sua própria forma e estilo não necessariamente diminuiria a sua dimensão política. Aqui, a política no filme não seria mais vista nos termos do alcance comunicativo e da persuasão pedagógica e sim pela questão do diálogo agressivo estabelecido com o espectador, em termos individuais.Tais preceitos aproximariam a Belair e a CAM de experiências teatrais locais. Elas seriam o Oficina no caso brasileiro e o Grupo Lobo e os centros de experimentação do Instituto Di Tella, no argentino.Nossa proposta portanto é analisar a interface cinema e teatro no Brasil e na Argentina deste momento. |
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Bibliografia | Da Silva, Sérgio Armando. Oficina: do teatro ao te-ato.São Paulo: Perspectiva, 2008. GARDNIER,Ruy. Sobre Belair e cinema marginal. Por enquanto. in A invenção do cinema marginal, Rio de Janeiro: Cinemateca do MAM, Tela Brasilis, 2007. GIUNTA, Andrea, Vanguardia, internacionalismo y política. Arte argentino en los años sesenta, Buenos Aires, Paidós, 2001. KING, John, El Di Tella y el desarrollo cultural argentino en la década del sesenta, Buenos Aires: Gaglianone, 1985. INNES, Christopher. El teatro sagrado. El ritual y la vanguardia. México: Fondo de cultura económica, 1992. LONGONI, Ana; MESTMAN, Luciano, Del Di Tella a “Tucumán arde”. Vanguardia artística y política en el 68 argentino, Buenos Aires: El Cielo por Asalto, 2000. MARINIS, Marco de. El Nuevo Teatro (1947-1970). Paidós: Buenos Aires, 1987. STAAL, Ana Helena Camargo de(Org.) Zé Celso Martinez Corrêa. Primeiro ato. Cadernos,Depoimentos, Entrevistas (1958-1974). São Paulo:Editora 34,1998. |