ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | A manifestação da fala na representação do cinema sonoro |
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Autor | debora regina opolski |
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Resumo Expandido | Desde o nascimento do cinema até 1927, era impossível a sincronização de imagem e som na película. Devido a esse motivo, por 33 anos, o cinema estruturou-se como uma linguagem oficialmente muda. Porém, sabemos que a impossibilidade de sincronização do som com a imagem em nenhum momento configurou-se na ausência de som. O fato de que o cinema nunca foi efetivamente mudo é um dado compartilhado pelos atuais estudiosos do som no cinema. Manzano afirma que no processo de consolidação do cinema como linguagem “o cinema “mudo” teria desenvolvido mecanismos para compensar a ausência do som” (2003, p. 22).
A partir de 1927, a possibilidade de ouvir o som vindo de ‘dentro da película’, manifestado em um primeiro momento pela audição da voz falada do ator, causou um grande impacto na estética cinematográfica da época. Xavier (2005) afirma que o som não se consolidou como o acréscimo de um adereço à imagem, mas sim, que o cinema sonoro possibilitou um passo muito importante no que diz respeito ao desenvolvimento da decupagem clássica. Nesse sentido, a linguagem cinematográfica se reestrutura e a voz do ator aparece como uma nova forma de expressão que algumas vezes soma, outras substitui as formas de expressão até então utilizadas, como a imagem, a expressão corporal e as cartelas com texto escrito. As duas produções discutidas nessa pesquisa trabalham com uma narrativa criada com metalinguagem, ou seja, o filme dentro do filme relatando uma época importante da história cinematográfica. Cantando na chuva retrata a época do nascimento do cinema sonoro permeado pela visão do início da decadência dos musicais da década de 50. O Artista, com um pouco mais de distanciamento histórico, apresenta a mesma história com a visão hipertextual presente no século XXI, mas utilizando a estética do cinema mudo e preto e branco dos anos 20. Com o advento do som o microfone se torna uma peça central da produção cinematográfica, criando necessidades inicialmente materializadas pela obrigação da adaptação da linguagem. Chion (1994) afirma que o cinema trabalha com uma linguagem verbocêntrica porque a voz guia e estrutura a visão. O fato é que desde o momento em que o som foi possível na tela de cinema, a voz assumiu uma posição destacada. O interesse pelo público no som que vinha das telas tinha relação com a audição da voz do ator, por isso a história apresenta uma produção concentrada de filmes com foco na voz (filmes falados/ talkie movies) e musicais até a década de 50. Certamente essa realidade apresentou um jogo de forças opostas, pois ao mesmo tempo em que os espectadores manifestaram a vontade de ouvir a voz do ator, os atores foram reticentes quanto a necessidade de adaptação das formas de atuação, decorrentes da adaptação da linguagem cinematográfica como um todo. A sequência inicial do filme O Artista mostra uma cena de tortura, em que o ator grita enquanto recebe choques. Logo depois, a seguinte cartela: “não vou falar nenhuma palavra!”. O torturador aumenta a intensidade do choque e ordena “Fale!” mas o ator se nega novamente. Em uma das cenas clássicas de Cantando na chuva, a adaptação da atuação à nova tecnologia da captação sonora é representada com a atriz sentada em frente a um microfone fixo. Ao proferir a fala, ela movimenta a cabeça de um lado para o outro e por consequência, a captação oscila entre fora do eixo e no eixo do microfone. Dentro das representações, parece claro que a questão da voz falada no cinema precisou de um tempo para ser estruturada, compreendida e colocada em prática, da mesma forma que em outros meio de expressão. O presente artigo pretende discutir a representação do cinema sonoro nos dois filmes, com foco na adaptação da linguagem cinematográfica ao som, manifestado em um primeiro momento na questão da fala, discutindo o poder expressivo da voz como elemento sonoro. |
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Bibliografia | CHION, M. Audiovision: sound on screen. New York: Columbia University Press, 1994.
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