ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Azul é a cor mais quente: afeto, performance e desvio |
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Autor | Thalita Cruz Bastos |
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Resumo Expandido | Algumas obras cinematográficas visam quebrar com a tradição do final feliz, característico da narrativa romântica, produzindo no espectador a experiência contrária, um coito interrompido, sem deixar de ser prazeroso, há uma suspensão do desejo através do choque e da quebra da expectativa. Tal formato já é bastante utilizado nas narrativas contemporâneas de viés romântico inclusive como efeito de realidade. As construções produzidas dentro das estruturas românticas são transportadas para outros formatos e ressignificadas a fim de produzir afeto e sensação nos espectadores não apenas através do efeito melodramático, mas através da frustação do desejo construído por esse efeito.
Tal deslocamento porém não significa que não se produz mais afeto ou sensações no espectador através de obras audiovisuais que subvertam as expectativas em tornos dos desdobramentos narrativos que envolvem uma relação amorosa, afetiva e sexual. O que acontece é a produção de sensações e afetos diferentes da expectativa codificada culturalmente em filmes que tratem de relações afetivas-sexuais. Tais filmes utilizam as mesmas referências que foram exaustivamente repetidas pela cultura midiática e as direcionam para um outro caminho. O agenciamento dos elementos que constituem e caracterizam uma narrativa romântica são reorganizados e produzem um outro resultado, que não é esperado, pois ainda não foi culturalmente codificado enquanto tal. Nossa hipótese é que o afeto instaura um desvio na lógica representacional, predominante nas narrativas audiovisuais, para apresentar um outro código de recepção, não pela chave da representação, mas pela expressão. Em outras palavras, a representação da realidade e do real, que predomina nas narrativas que se baseiam numa estética realista, é substituída por uma expressão do real e da realidade. Tal expressão está relacionada à aspectos perceptivos, sensórios e afetivos, que produzem engajamento do espectador na imagem e no seu conteúdo intrínseco. No que concerne o corpus desse trabalho, nossa proposta é analisar o filme “Azul é a cor mais quente” (2013), de Abdellatif Kechiche , focando nos elementos agenciados pelo filme e que produzem afeto na relação com o espectador. A chave de análise utilizada será a performance, levando em consideração o seu caráter de evento-expressivo que permite a interação e manifestação dos corpos. A produção de afeto através da performance está inserida nas estéticas realistas contemporâneas, visto que a performance se caracteriza pela irrupção de um acontecimento, e o realismo contemporâneo está interessado em valorizar os acontecimentos, mais que as ações ou grande narrativas. O filme escolhido narra uma sequência de acontecimentos nos quais, no decorrer da narrativa, irrompem momentos de afeto, inserts de excesso, elementos performativos que engajam sensório-afetivamente o espectador. Nosso objetivo é compreender como produções que colocam em questão a relação amorosa afetiva sexual organizam seus elementos estéticos e narrativos para quebrar a expectativa e produzir sensações inesperadas no espectador. Para tal será utilizada a noção de performance desenvolvida por Elena Del Río, uma contextualização do momento da cultura midiática e somática contemporânea com Jurandir Costa Freire, bem como a compreensão da percepção do amor e da relação afetiva sexual na contemporaneidade através dos estudos de autores como Zygmunt Bauman e Eva Illouz. |
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Bibliografia | BALTAR, Mariana. Políticas do excesso e do afeto: Mobilizando os corpos no cinema contemporâneo. 19 aug. 2013, 20 dec. 2013. Notas de Aula.
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