ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Cinema de si e reconstrução da experiência a partir de uma ‘pedagogia |
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Autor | Angela Medeiros Santi |
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Resumo Expandido | “Atualmente, todos se configuram como uma espécie de cineastas das próprias vidas e vivem em conformidade com isso, sempre voltados para as câmeras, sempre prontos para se configurarem em uma imagem, ou, talvez até mesmo conscientes de que sempre são já e só imagens para os outros e nos outros (Monteiro) ”. A partir desse “mot”, iremos desenvolver uma análise sobre um certo “cinema” que surge à revelia da sua produção industrial, a partir das produções caseiras, amadoras, em função do acesso fácil às tecnologias que permitem a todos fazer seus próprios filmes.
Esse trabalho pretende pensar, então, uma cultura da imagem que se faz associada à construção de identidades que não se fixam em nada e que, por isso, precisam produzir simulações de si (que possuem alguma materialidade). Tais simulações, produzidas a todo momento, aproximam-se do dilema da imagem em um tempo que Beatriz Sarlo chama de pós-cinema: temos aqui uma estética do apagamento. Segundo ela “o cinema clássico (...) era lento” “(...) nos obriga[ndo] a suportar a duração do tempo (2013, p. 70/71)”. “O pós-cinema é um discurso de alto impacto, baseado na velocidade com que uma imagem substitui a anterior (p. 71).” A partir dessa questão, pretendemos apresentar, em contraposição, um trabalho realizado em sala de aula, intitulado “Você tem sede?”, em que a imagem reinstala a duração e constrói uma compreensão de mundo “excêntrica”, inumana, voltada para aquilo que está fora do eu e que, como tal, reinstala esse eu - agora em articulação com o mundo. O trabalho partiu da referência ao Mito da Caverna, de Platão (proto-imagem do cinema) e de uma recusa às “sombras” e à questão da representação, numa tentativa de anulação da “caverna”, buscando, conforme afirmam os autores, “o real em sua concretização e, não somente em sua representação ”. Dessa forma, nessa volta a um começo ainda não tragado pelas pretensões subjetivantes, temos uma extensão e potencialização do tempo e da experiência. Tal como na tradição do sublime, tal potencialização advém do fato de que “não há assim quase nada para consumir (...) não se consome a ocorrência, (...) sentir o instante é instantâneo.” (LYOTARD, 1990, p. 86). Assim, em oposição à maioria das imagens feitas atualmente, a produção deste filme/performance optou pela literalidade, pela exposição de imagens livres da representação e interpretação subjetivante. O elemento trabalhado no filme foi o mar que, conforme afirmam os autores, é desmembrado “a partir de diversas definições de seus principais elementos constituintes: água e sal”. Nesse sentido, o filme expõe esse mar em uma multiplicidade de possibilidades, fora (da sala de aula e do filme), em seu ambiente e fluxo, e dentro da sala, quando ele é trazido para ser bebido e ouvido (através da leitura performática do poema “Um brinde”, de Mallarmé. Nesse sentido, este trabalho pretende trabalhar a ideia de uma outra produção filmográfica amadora que, sendo característica de uma cultura midiática e informacional, a subverte, na medida em que, apesar de se constituir nessa cinematografia de si, a reinstala, numa relação com a alteridade, construindo uma pedagogia que se faz pelas imagens, explorando, como afirma Leandro, a pedagogia presente nas próprias imagens (LEANDRO, 2001)– que falam por si, mas a partir de imagens feitas por amadores, que produzem um filme que instala um outro tempo que, transposto para o universo da educação, permite recuperar uma dimensão da experiência que permita recuperar sua potência na medida em que, como afirma Lyotard, ativa “algo esquecido na representação: a apresentação, o fato de que algo exista aqui e agora”. Retomando o elemento simples da experiência, as “formas da apresentação (p. 116)” - espaço e tempo, é possível recuperar/criar um outro tempo, que construa novas subjetividades e imagens. |
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Bibliografia | BENJAMIN, Walter. (1987). Obras escolhidas I: magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1987.
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