ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | O processo colaborativo nos filmes de Cristiano Burlan |
|
Autor | Thais de Almeida Prado Gava Toracio |
|
Resumo Expandido | No presente artigo, relatarei algumas dinâmicas da criação colaborativa, me abstendo ao trabalho de Cristiano Burlan, na criação de seus dois últimos longas-metragens “Amador” e “Hamlet”, este último ainda em fase de finalização.
Parto do princípio de que o “processo criativo” no cinema, assim como em outras formas artísticas acontece em diferentes âmbitos, porém é mais usual que este processo seja iniciado a partir de um roteiro, como também o fora em outros tempos no teatro. A necessidade do encontro com o outro, no entanto, passa a transmutar o foco do processo criativo. No caso do teatro, muitos grupos passaram a criar colaborativamente sem terem um texto prévio. No teatro há uma diferenciação entre o “teatro coletivo” e “teatro colaborativo”. No primeiro, todas as pessoas do grupo exercem as mesmas funções, isto é, em geral todos são atores, cenógrafos, dramaturgos ao mesmo tempo não havendo o papel do diretor, isto é o papel unificador. As decisões são feitas coletivamente e nunca apenas por uma pessoa só. No caso do “teatro colaborativo” todas as pessoas do grupo têm a liberdade de trazer material para a criação e para a reflexão crítica; a obra em geral nasce do embrião lançado pelo grupo, porém há a divisão de funções: diretor, dramaturgo, atores. Cada um dos participantes do grupo criará respondendo pela sua função, mas todos tem uma participação no pensamento e no conceito da obra. No cinema a colaboração dentro de cada função já é intrínseca, isso se pensarmos nas funções de diretor, diretor de fotografia, direção de arte, figurinos e etc. No entanto diferentemente do teatro colaborativo, em geral os filmes já partem de um roteiro prévio e não de uma temática proveniente de uma vontade em comum de todos os participantes do projeto. Neste sentido o trabalho criativo do ator está relacionado ao seu desempenho com o personagem e não tanto com a sua capacidade de atuar/conceituar sobre o filme como todo. Existem é claro muitas exceções, porém se comparadas ao usual no cinema a diferença se torna gritante. “Mesmo não sendo um procedimento padrão na atividade audiovisual, a ideia de processo começa a contaminar a prática cinematográfica, principalmente se feito num período anterior à filmagem, como o realizado por Mike Leigh. Cada vez mais roteiristas e diretores trabalham com a noção de processo colaborativo na construção de suas obras.” (Rewald, Rubens. “Caos/Dramaturgia”. Op. cit., p. xi.) Para os cineastas que vêm de uma formação teatral do gênero colaborativo, o exercício de trabalhar deste modo com os atores já faz parte de seu método criativo. Quando passam a fazer cinema, acabam transportando isso para a criação cinematográfica. Hoje, vemos diretores como Mike Leigh, Andreas Dresen, Richard Linklater, Cristiano Burlan, Cao Guimarães, Marcelo Gomes, Kiko Goifman, entre outros, buscando no encontro com seus atores o foco para a criação do filme. Em geral estes diretores trabalham com os mesmos atores por conhecerem bem seus parceiros de trabalho e assim eles se propõem ao risco de deixá-los “livres” em frente à câmera, prontos para lidarem com o imprevisto. Neste tipo de criação, a “experiência” da ação é de extrema importância. Há uma relação de plena troca onde a confiança é mutua, tanto do lado do diretor quanto do ator. Resolvi me ater neste artigo sobre “processo colaborativo no cinema” ao trabalho de Cristiano Burlan, por ele ser um cineasta de formação teatral, trabalhar com o mesmo ator (Henrique Zanoni) em praticamente todos os seus filmes, se utilizar de improvisos durante as filmagens e por ter me permitido acompanhar seu último processo criativo de perto, o filme “Hamlet”, ainda em fase de edição. Aqui serão relatadas algumas das dinâmicas de sua criação que encontram em seus atores a chave primordial do filme, seja durante a criação de seu não-roteiro, seja em improvisos durante as filmagens. |
|
Bibliografia | JOUSSE, Thierry. John Cassavetes. Editora Nova Fronteira. 1992.
|