ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | A redundância e o estatuto de verdade no docudrama Por toda minha vida |
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Autor | Débora Ferraz |
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Resumo Expandido | Esta comunicação pretende traçar, a partir da análise estilística do docudrama televisivo Por toda minha vida, exibido de 2006 a 2011 pela Rede Globo e suas diferenças em relação a outros docudramas televisivos, considerações sobre o diálogo entre os universos do documentário e da ficção. Neste sentido, a redundância intencional produzida na montagem e na relação entre os suportes dramatizados e documentais é um lócus privilegiado para empreender reflexões sobre questões extremamente pertinentes para a cultura audiovisual contemporânea, tais como o fetiche do real, seu valor de distinção para o consumo de entretenimento e a correlação entre o aparato estilístico de duas tradições que pressupõem diferentes pactos espectatoriais, na geração de efeitos discursivos, sob a luz da opacidade e transparência da câmera e da evidência como fundadora de um lastro de realidade.
Amparada em autores como Bill Nichols, Guy Guthier e Valerio Fuenzalida entre outros, e considerando enquanto redundância audiovisual não apenas a repetição desnecessária de uma mesma informação no quadro, mas em relação entre planos subsequentes. Em destaque, na análise empírica do programa, entra a dupla narração do mesmo evento através da atitude documentária e, em seguida, através da atitude ficcional. Apesar de a repetição ser um recorrente efeito estilístico, especialmente ao se colocar como elemento de antecipação, quando observada sob a luz dos pactos espectatoriais e da pregnância que o plano impõe ao todo da peça audiovisual, podemos ver que a redundância, no docudrama, cumpre uma função que não é meramente estilística, mas sim um efeito de reconfiguração do pacto espectatorial que visa legitimar com a chancela de “realidade”, as cenas ficcionalizadas, e promover um efeito de realidade, usando o conceito de Barthes, mesmo quando a cena apresenta aspectos inverossímeis como maniqueísmo, simbolizações excessivas, cenários pouco críveis e diálogos vazios. O pressuposto desta análise é que esta construção promove um tipo específico de “efeito do real”, e o obtém na sua construção audiovisual. Na maneira como as cenas-documentário se relacionam com as cenas-dramaturgia. Elas constroem um efeito de redundância constante ao ligar duas tradições estéticas diferentes e assim, na montagem, a peça audiovisual adquire o estatuto de verdade independente do quão maniqueísta a história seja. De modo que, legitimado pelo discurso do documentário, a parte dramatizada do programa passa a ter valor de uma reconstituição da realidade, e não como uma ficcionalização desta. É possível reconhecer, já nos primeiros minutos de cada episódio, como as narrativas articulam este “efeito de realidade”, através da linguagem do documentário e das marcas estilísticas que os relacionem aos discursos do real, que reivindicam para si um lugar de legitimidade como “verdade”, como “história”, como “documento”, no docudrama. |
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Bibliografia | BALTAR, Mariana. Realidade lacrimosa: diálogos entre o universo do documentário e a imaginação melodramática. Tese (Doutorado). Universidade Federal Fluminense, Curso de Pós-Graduação em Comunicação, 2007.
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