ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | A construção da atmosfera silenciosa de Stalker de Andrei Tarkovski |
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Autor | Pablo Alberto Lanzoni |
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Resumo Expandido | Para Inês Gil (2005), o espectador percebe a atmosfera de um filme, ou de uma cena, segundo critérios subjetivos que ele mesmo projeta à tela durante a fruição. A atmosfera caracteriza, atribui propriedades, qualidades e intensidades à representação. Contudo, ela não restringe-se às relações entre o espectador e o filme, pois existem ainda as observações intrínsecas a própria obra. Deste modo, Gil apresenta duas especificidades para a atmosfera cinematográfica: a atmosfera espectatorial, que estuda o fenômeno entre o espectador e o filme a partir da crença no reconhecimento da representação e que põe em causa os processos de identificação e de distanciamento, por exemplo, e a atmosfera fílmica, que aborda os elementos fílmicos visuais e sonoros e suas relações.
Nesta perspectiva, atmosfera cinematográfica pode ser observada através de distintos elementos: direção de atores, luz, som, fotografia, enquadramento, etc. No entanto, conforme salienta a autora (GIL, 2005), no estudo da atmosfera fílmica não deve-se perder de vista que é a relação entre vários tipos de atmosfera que está sempre em causa, porque, no cinema, eles estão intimamente ligados. Atentar para a configuração da atmosfera silenciosa que emerge de Stalker (1979) requer ainda algumas observações: com frequência, as referências ao universo sonoro do cinema ocorrem através de uma tríade: diálogos, música e ruídos, deixando à margem o silêncio que interpenetra e coabita este espaço. Há ainda uma restrição bibliográfica, fazendo de Fernando Morais da Costa um dos únicos pesquisadores brasileiros preocupados com a temática do silêncio no audiovisual. Por mais paradoxal que seja, foi com a chegada do som ao cinema que o silêncio passou a ser tanto um recurso de expressão quanto um movimento de apreensão do espectador, cuja atenção aos sons fazia com que este ficasse absorto e silencioso diante da tela. A partir da década de 1930, o cinema mudo, que lançara a seu público a impressão da sonoridade através de recursos de atuação e de montagem, deu espaço ao cinema sonoro, que trouxe consigo mais do que o som dos auto-falantes: foi ele quem enquadrou nossa percepção acerca do silêncio no audiovisual. É por esta razão que Bálász (1978) entende que a sonoridade silenciou a experiência cinematográfica. O autor foi um dos primeiros a atentar para a importância do silêncio na expressão estética dos filmes sonoros, dizendo que a meticulosidade de seu uso poderia atuar como um poderoso contraponto expressivo. O silêncio, como dizia, tem o poder de amplificar os ínfimos gestos ou sugerir a ambiguidade de um personagem ou de uma história. Dentre a filmografia de Andrei Tarkovski, Stalker foi identificado pelo próprio diretor (TARKOSVKI, 1998) como aquele que menos valeu-se da utilização de música em sua produção, fazendo com que em sua fruição seja possibilitado ao espectador atentar aos demais elementos sonoros presentes em sua narrativa e à impressão de silêncio que desta emerge. Em Stalker (1979), a estrutura dramática liga-se intimamente à atmosfera sonora. A música assinada por Edward Artemiev combina-se a sons ambientes, captados e sintetizados, a trechos incidentais da ‘Nona Sinfonia’ de Beethoven e do ‘Bolero’ de Ravel. Contudo, embora permeado de sonoridades, o desenvolvimento narrativo suscita no espectador uma “impressão de silêncio” (CHION, 2011), a partir das relações que emergem de seus constituintes sonoros e imagéticos. Para esta discussão, extraída de minha tese (PPGCOM/UFRGS) que encontra-se em construção, parte-se de exemplos de cenas do filme para problematizar as “impressões de silêncio” (CHION, 2011) constituídas e sua consequente atmosfera silenciosa. A reflexão proposta estará acompanhada de questões relacionadas às combinações entre os constituintes da trilha sonora e destes com a trilha imagética, pois é a partir desta fusão que emerge o silêncio mencionado. |
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Bibliografia | BÁLÁZS, Bela. El film: evolución y esencia de un arte nuevo. Barcelona: Ed. Gustavo Gili S.A., 1978.
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