ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Em busca das origens de um cinema queer no Brasil: Século XIX até 1945 |
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Autor | Mateus Nagime |
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Resumo Expandido | O objetivo deste trabalho é alinhar a história do cinema brasileiro aos estudos queer em voga na América do Norte e na Europa, mas pouco realizados no Brasil. Para tanto iremos ao início do cinema brasileiro, buscando imagens que possam ser consideradas origens de tal movimento. Para tal empreitada, duas frentes principais serão trabalhadas.
A primeira é o nascimento de uma cultura queer de produção audiovisual no Brasil, ou seja, a criação de filmes que: possuam personagens homossexuais ou que participem de situações que possam ser consideradas queers; tenham sido realizadas por artistas homossexuais e/ou queers (diretores, atores, roteiristas, técnicos, etc); ou de filmes com temática ou estética queer desde os primórdios até 1945, incluindo uma produção marginal que possa ter existido, como a doméstica ou pornográfica, ou ainda o reconhecimento já naquela época de um público e espectatorialidade queer no Brasil. A segunda é se alguns destes filmes feitos até 1945 foram (re)apropriados futuramente por artistas ou públicos pertencentes a uma estética e cultura queer, e como tal procedimento foi realizado. Percebemos já uma certa dificuldade em relacionar de uma forma correta a homossexualidade (ou o homossexualismo, termo em voga na primeira metade do século XX por estar ligado a uma noção de patologia) e o termo queer, que está atrelado a percepções mais amplas e sutis de diferentes sexualidades (não somente uma dicotomia entre hétero e homo) e possui em si um caráter politico, mas durante a apresentação diferenças e pontos de encontro destes termos serão apresentados. Fugindo desta simples caracterização de personagens e situações homo, bi ou heterossexuais não nos interessa também pensar se tais momentos apresentam representações positivas ou negativas, reais ou fantasiosas, afirmativas ou depreciativas, como acontecia nos estudos pioneiros dos anos 1980, por entendermos que tais questionamentos simplificam a temática tão abrangente da sexualidade. Dentre os filmes que serão estudados se encontram Braza Dormida (Humberto Mauro, 1928), e Limite (1931, Mário Peixoto), entre outros. O segundo é ainda mais interessante por ter sido dirigido por um homossexual e em sua narrativa e estética fragmentada podemos encontrar um retrato de uma cultura queer nacional, mesmo que pode ter sido impulsionada por um contato com a vanguarda europeia. Outras produções artísticas de Peixoto também deverão ser analisadas, na tentativa de compreensão mais profunda de sua vida e obra, assim como outras obras artísticas da época que provavelmente influenciaram o cinema. Como muitos filmes foram destruídos com o passar dos anos, também serão realizadas investigações em fragmentos e documentação de filmes, assim como reportagens e comentários da época, em casos que pareça indicar a presença de aspectos queers. Por cinema brasileiro entendemos todos os filmes produzidos no Brasil, mas também podemos pensar em filmes realizados por brasileiros no exterior (como Alberto Cavalcanti ou Carmen Miranda). Em relação especialmente à espectatorialidade lembramos que um filme estrangeiro produz tanta ou maior importância diante de uma cultura regional ou nacional do que um filme brasileiro e estudaremos casos latentes de tal apropriação de uma produção internacional por um público nacional, como foi o célebre caso de José Francisco dos Santos que criou uma personagem chamada Madame Satã, em homenagem ao filme norte-americano de 1930 dirigido por Cecil B. DeMille. Além destas relações metalinguísticas, trilharemos também caminhos intertextuais, trabalhando representações homossexuais e queers nas artes da época, além de tentarmos resgatar estudos das áreas de sociologia e sexualidade que nos ajude a entender melhor como tais assuntos eram tratados pelos artistas e recebidos pelo público na época. |
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Bibliografia | AARON, Michele (ed.). New queer cinema: A critical reader. New Brunswick: Rutgers University Press, 2004.
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