ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | A CINEFILIA NO CINEMA BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO |
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Autor | Scheilla Franca de Souza |
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Resumo Expandido | Ao longo da história do cinema, a cinefilia conseguiu encontrar diversos modos de expressão. Trata-se de um dos fenômenos que envolvem o cinema onde o espectador, historicamente, tornou mais evidente toda a sua dimensão. Embora tenha encontrado seu apogeu entre as décadas de 1950 e 1970 - notadamente na França com o fenômeno cinematográfico da Nouvelle Vague e seus jovens turcos - e muitos pesquisadores e estudiosos tenham decretado o fim desse amor, é possível perceber que o coração cinéfilo ainda pulsa e tem impulsionado outras práticas e contextos de produção e recepção cinematográfica.
Assim sendo, o objetivo deste artigo é discutir a presença de práticas de cinefilia no cenário do cinema brasileiro recente. Acredita-se que, no contexto do cinema brasileiro contemporâneo, sobretudo em relação às produções mais undergound ou de vanguarda - que vem sendo chamado por críticos e teóricos de novíssimo cinema brasileiro, cinema de garagem (IKEDA e LIMA, 2012) ou cinema pós-industrial (MIGLIORIN, 2011) – a cinefilia é um ponto fundamental nos contextos de produção e recepção das obras. Esta cinefilia constitui posturas de espectatorialidade e de realização audiovisual, que vem alimentando o cenário cinematográfico contemporâneo, sobretudo aquele voltado para produções mais marginais. No contexto da produção brasileira de cinema na atualidade podem-se perceber influências de práticas de cinefilia, sobre nas produções mais marginais, underground ou de vanguarda. Esse amor deixa marcas desde as formas de concepção dos filmes, em sua própria narrativa, nas formas de espectatorialidade e na recepção da crítica. Para tornar mais clara a visualização do fenômeno da cinefilia no cinema brasileiro contemporâneo atual, pode-se tomar como exemplo o caso do contexto underground de produção que vem se chamando de “cinema de garagem” (IKEDA e LIMA, 2012), “novíssimo cinema brasileiro” ou “cinema pós-industrial” (MIGLIORIN, 2011). Embora não haja um manifesto oficial, o que não torna esse cinema um movimento uniforme, estes pesquisadores e críticos observaram práticas e pontos semelhantes nesse conjunto de filmes que surgiu nos últimos anos no cenário do cinema brasileiro. Entre as questões em comum pode-se destacar: o “fazer cinema” como uma prática ordinária (sobretudo em relação ao dispositivo tecnológico e as formas de produção); a busca por um ideal de cinema autêntico, voltado para o "eu" particular, para o singular; a criação de narrativas minimalistas; e a metalinguagem de um cinema que reflete sobre si mesmo – de maneira direta ou indireta - sobre o próprio fazer cinematográfico (seja através da sua forma ou de citações diretas ou indiretas ao próprio cinema). Acredita-se que a cinefilia seja um modo de leitura e recepção desejado para que o prazer dos textos de garagem flua, nesse sentido, sobretudo no caso do coletivo Alumbramento, com seus longas-metragens feitos à margem dos esquemas de financiamento público, como “Estrada para Ythaca” (2010), “Os monstros” (2011) e “Doce Amianto” (2013), dentre outros. Desde já se observa nas características gerais deste conjunto de filmes o cinema como preocupação central. Está implícito, portanto, uma defesa de certo cinema, uma defesa porque se ama determinado cinema. Trata-se, então, de um contexto onde a cinefilia, ou o amor ao cinema, é fundamental para sua realização, apreciação e legitimação nos circuitos de festivais e nos espaços de discussão da crítica. O que se pode notar, lançando uma leitura do filme “Os monstros” (2011) é que além de surgir de um contexto de cinefilia, sobretudo no caso dos filmes Alumbramento, o cinéfilo é constituído textualmente como seu espectador modelo, visto as suas referências trazidas ao longo do filme. |
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Bibliografia | BAECQUE, Antoine de. Cinefilia: A invenção de um olhar, história de uma cultura 1944-1968. Brasil, 2004.
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