ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | O nordeste no cinema brasileiro da década de oitenta |
|
Autor | Carla Conceição da Silva Paiva |
|
Resumo Expandido | O audiovisual nacional apresenta, na maioria de seus filmes de ficção, um discurso centralizado na figura do nordestino como um mártir que desenvolve sua existência numa dimensão trágica, através de ocorrências de dor, fome, miséria e morte. Segundo Sylvie Debs (2007), personagens-chave da literatura - como o cangaceiro, o beato, o coronel, o retirante etc. – próprios do regionalismo e intimismo, são incorporados em outras artes como uma forma de introduzir um “falar brasileiro”. Essa inclinação vai sendo construída desde o início dos anos 1930, com o surgimento dos primeiros filmes sobre a temática nordestina, notadamente, longas sobre o cangaço.
Apesar de ser apresentado, individualmente, por um duplo ponto de vista (regional e nacional), tanto por escritores e cineastas originários do sul quanto do norte do nosso país, a ideia de “nordeste”, focado no sertão nordestino como sinônimo de brasilidade, nacionalidade e especificidade ganha força a partir de filmes como "O cangaceiro" (1953) de Lima Barreto e "Deus e o diabo na terra do sol" (1964) de Glauber Rocha, muito percebido através da cristalização da obra "Os sertões" de Euclides da Cunha. A partir desses filmes, o nordeste, paulatinamente, passa a ser um elemento de reflexão sobre a identidade nacional e essas construções representativas estão relacionadas à implantação do desenvolvimento econômico burguês na sociedade brasileira e envolve, segundo Célia Tolentino (2001), aspectos políticos, econômicos e culturais que nortearam a transição do Brasil rural para o Brasil urbano, debatendo projetos nacionais como modernização, industrialismo e brasilidade. Esse cinema nacional, portanto, que privilegia o rural como uma representação da identidade brasileira, quando o Brasil precisava desenvolver instrumentos sociológicos mais eficientes do que os livros, para nós, colaborou para que as plateias tomem a região nordeste “como composição de um imaginário de nacionalidade justamente porque, nessa região do país, encontramos o que precisamos para conformar uma tradição, [...] a sobrevivência do folclore, das manifestações populares” (IDEM, p. 92). Esse discurso cinematográfico era apoiado pelo governo brasileiro através de instituições como a Comissão de Cinema Educativo – CONCINE; o Instituto Nacional de Cinema Educativo – INCE e a própria Embrafilme. Entre os anos 1920 e 1980, foram produzidos mais de cinquenta filmes com a temática nordestina, só nos anos 1980, com produção e/ou distribuição da Embrafilme, por exemplo, encontramos vinte um longas metragens sobre o nordeste. Face ao exposto, pretendemos analisar como a ficção cinematográfica, no Brasil, para responder às demandas de formação da identidade nacional, teve papel preponderante na construção do imaginário coletivo sobre o nordeste, projetando tanto no interior como no exterior do país, mitos ligados ao sertão e ao litoral da região nordeste, reproduzindo uma atração pela imagem de um Brasil distante e arcaico. Para tanto, centralizaremos nossa investigação na representação do cangaço, dos migrantes nordestinos e do sertanejo no cinema ficcional e do heroísmo nordestino no documentário brasileiro na década de oitenta, em filmes como "O homem que virou suco" (1980); "O cangaceiro do diabo" (1980); "Dadá, a musa do cangaço" (1981); "O homem de areia" (1981); "Aventuras de um Paraíba" (1982); "Gabriela" (1983); "O cangaceiro Trapalhão" (1983); "Parahyba, mulher-macho" (1983); "Sargento Getúlio" (1983); "O baiano fantasma" (1984); "Cabra marcado para morrer" (1984); "A Hora da estrela" (1985); "O caldeirão da santa cruz do deserto" (1985) e "Luzia-homem" (1987). |
|
Bibliografia | DEBS, Sylvie. Cinema e literatura no Brasil: os mitos do sertão, emergência de uma identidade nacional. NEMER, Sylvia (Trad.). Fortaleza: Interarte, 2007.
|