ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Ecologia de Pertencimento |
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Autor | Danillo Silva Barata |
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Resumo Expandido | A transvanguarda e o neoexpressionismo da década de 1980 colocavam a metalinguagem como um caminho possível para ultrapassar os limites impostos ao fazer pictórico, que pareciam esgotar o seu potencial criativo com a arte contemporânea. Necessariamente, as leituras de Foucault acabaram por contaminar completamente a sua forma de pensar a arte. Pensar a estética como um momento de construção de verdades sobre a arte, historiar completamente todas as possibilidades pseudouniversalizantes da tradição artística ocidental, operando desconstruções de cânones e paradigmas.
Tomando como referência a poesia satírica e erótica de Gregório de Mattos, organizou um mapa de orientação para um estudo histórico-antropológico da "baianidade", traduzida na produção poética de Gregório de Mattos e o seu ajustamento na contemporaneidade. Na poética de Ayrson Heráclito, a cidade da Bahia é o corpus de sua produção e reflexão. Para Heráclito, a Cidade do Salvador é cheia de contrastes: arcaica e ao mesmo tempo nobre. Nobreza não no sentido histórico, mas dos valores, encontrando pessoas com valores e determinações louváveis e, ao mesmo tempo, pessoas sem nenhuma relação com o social e com a ecologia. Uma cidade cheia de contrastes, rica e pobre, glamorosa e decadente, antiga e contemporânea. A história e a arte de Salvador são determinantes na poética do artista, que na sua produção simbólica não foge dessa tensão. O Fausto baiano - Escolheu três materiais: carne de charque seca, que trazia a referência da cultura da Chapada, da pecuária, mas antes da carne vieram o açúcar, a cana, as rapaduras, os diversos tipos de açúcar, que estavam associados à história da Bahia colonial e o dendê. O azeite de dendê era signo desse sangue ancestral que oxigenava o corpo, da carne seca, resistente. O dendê como sangue vegetal e esperma de Exú. Para Ayrson esse projeto apresentava o primeiro Fausto baiano. Os estudos da Bahia colonial serviram para entender o que era tradicional na Bahia e o que era contemporâneo. Em 1994, durante o curso de Mestrado em Artes Visuais na Escola de Belas Artes da Ufba, sistematizou seus estudos e utilizou Gregório de Mattos como referência em sua pesquisa. O artista começou a desenvolver uma série de instalações sobre a história da Bahia, utilizando esses materiais emblemáticos (carne de charque, açúcar e óleo de dendê). A escolha desses materiais era baseada em estudos sobre a economia açucareira e o que o açúcar poderia significar num confronto entre a tradição e o contemporâneo. Em 1994, fez uma grande instalação onde esse material foi publicado. Nos estudos sobre o sistema colonial, a questão da escravidão chamou sua atenção. O senhor de engenho, as logomarcas dos senhores, dos engenhos, as peças de negros. Toda essa cosmogonia era, de certa maneira, apropriada ao trabalho. Desses trabalhos, fez algumas ações, pois, como defende o artista, era mais coerente ao alinhamento conceitual/artístico, que prefere chamar de ações, a performance. A sua produção simbólica coloca em xeque os processos civilizatórios e a própria cultura. Nesta perspectiva, na década de 2000, retomou seus trabalhos com a carne, projeto que denominou Transmutação da carne, e apresentou diversas ações em museus e espaços públicos. O dendê lhe interessou porque era uma metáfora do corpo, e o dendê, dentro da sua poética, oxigena esse corpo cultural, corpo negro, baiano, com forte influência das questões negras. Nesse sentido, estabeleceu alguns pressupostos. A primeira ideia era trabalhar o dendê como sangue, como se o sangue fosse o oceano, a imagem de um mar de dendê como metáfora de um Atlântico negro, oxigênio que impulsionaria esse corpo resistente da América. Essa fluidez atlântica foi a base poética dos pressupostos que iniciaria uma série de performances, vídeos e instalações. Realizou uma ação no Museu de Arte Moderna da Bahia que denominou de Condor do Atlântico. Com isso ele criou um discurso libertário em relação a esse acidente ecológico. |
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Bibliografia | HERÁCLITO, Ayrson. Espaços e Ações. Salvador: o Autor, 2003.
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