ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | O universo feminino nos filmes de Alice Guy-Blaché |
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Autor | Camila Manami Suzuki |
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Resumo Expandido | Introdução: O cinema de atrações como concebido por Gunning (1986) refere-se ao período inicial da história do cinema, aproximadamente entre 1895 e 1908. Segundo o autor, os filmes realizados ao longo desses anos possuem determinadas características próprias de um cinema em constante transformação.
Diante da nova historiografia do cinema, propomos uma retrospectiva dos filmes realizados por Alice Guy-Blaché, pioneira do cinema cuja obra merece atenção pela sua qualidade e diversidade. Trata-se de uma extensa cinematografia produzida profissionalmente por uma mulher na virada do século XIX para o XX. Além das atualidades, comédias, féeries e travelogues, Alice dirigiu muitos melodramas voltados para questões familiares e da mulher. O objetivo principal desse trabalho é apresentar os filmes dessa diretora que problematizam o papel da mulher na sociedade e apresentam mulheres capazes de mudar o ambiente/situações a sua volta. Metodologia: A elaboração desse trabalho foi realizada através da análise dos filmes de Alice Guy-Blaché e seus contemporâneos, e pensados no decorrer das leituras de trabalhos de autores como Alison McMahan, Flávia Cesarino Costa, Laura Mulvey, Tom Gunning, Richard Abel e do livro de memórias deixado por Alice e publicado postumamente. Discussões: Baseado na incessante tentativa de chamar e prender a atenção da plateia, o cinema de atrações se apoderou do ponto de vista do espectador de teatro para apresentar um espetáculo que se inicia e se encerra abruptamente. A maioria dos filmes de Alice Guy-Blaché que temos disponível hoje, está inserido nesse contexto histórico do cinema, no entanto, alguns deles “extrapolam” essas características e se apresentam tecnicamente como filmes de transição para um cinema narrativo. A ousadia da realizadora nos desperta bastante interesse, por se tratar de uma mulher, de origem burguesa, capaz de conduzir uma carreira de mais de 20 anos, produzindo, roteirizando e dirigindo filmes em duas línguas, além de ter administrado seu próprio estúdio cinematográfico nos Estados Unidos nos anos de 1910. Esteticamente, os filmes de Alice demonstram constante preocupação com cenários, objetos de cena e figurinos, mesmo nas atrações. Sua busca constante por ambientes ideais para as filmagens, levou-a a explorar locações externas, incomum para o período. Alison MacMahan, contabilizou cerca de 600 filmes realizados por Alice Guy apenas no período em que ela trabalhou para Léon Gaumont, entre 1895 e 1907. Ao longo de sua carreira no cinema, Alice produziu e dirigiu alguns filmes merecedores de atenção por trazer temas de um universo popular e atemporal. Trata-se do espaço familiar, doméstico e, naquele tempo, dominado e atribuído, necessariamente, às mulheres. Esses filmes foram realizados na França e nos Estados Unidos, ao longo dos mais de 20 anos de carreira. Suas personagens, heroínas e vilãs das mais diversas idades e classes sociais, às vezes são protagonistas e outras coadjuvantes, mas estão sempre enfrentando uma situação relacionada ao seu gênero. A questão da sexualidade também está presente na sua obra através da inversão de papéis, da homossexualidade e do travestismo. Selecionamos quatro filmes que abrangem o universo feminino Les résultats du féminisme, 1906 (propõe inversão de papéis entre homens e mulheres), La marâtre,1907 (problematiza o papel da mãe e esposa), Une Héroine de quatre ans, 1907 (apresenta uma menina destemida que sozinha é capaz de resolver inúmeras situações problemas, como se salvar e salvar adultos, homens, inclusive) e Matrimony’s Speed Limit, 1913 (apresenta uma jovem apaixonada que salva sua relação amorosa com atrevimento, atitude e sem medo das consequências). Nesses exemplos, Alice Guy-Blaché apresenta mulheres inseridas em ambientes familiares, domésticos, mas que são capazes de mudar seu destino, através de atrevimento e atitudes ousadas, destacando sua produção das realizações de seus contemporâneos. |
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Bibliografia | ABEL, Richard. Encyclopedia of early cinema. NY: Routledge, 2005.
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