ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | O autor como pesquisador: um retorno aos arquivos das imagens |
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Autor | leandro pimentel abreu |
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Resumo Expandido | O material de estudo para a elaboração de um trabalho de arte, depois de cumprir sua finalidade,se mantém, na maior parte das vezes, guardado em um local privado ou, simplesmente, torna-se dejeto e é descartado. Quando preservado, forma um arquivo separado das obras. A ele podem se agregar de modo orgânico escritos, anotações, mapas, desenhos, esboços, diagramas, objetos, reproduções, fotografias, registros sonoros, filmes, gravações, enfim, tudo aquilo que serviu, em algum momento, direta ou indiretamente, como material para a elaboração de um trabalho. Depois de usado, esse material entra em repouso até alguém ativá-lo novamente ou descartá-lo.
Seja por interesse em valorizar e proteger o legado ou com o intuito de investigar o procedimento de produção usado, em geral o pesquisador (que pode ser o próprio artista que retorna mais tarde com outra percepção para esse arquivo) revisita esse acervo com uma abordagem distinta dos usos anteriores. Com o tempo, esses vestígios se tornam mais maleáveis, permitindo outras entradas para que sejam inventariados a partir de novos interesses e não mais como um meio para a realização do trabalho final que motivou sua origem. A hipótese que iremos desenvolver é que o retorno a esses restos do processo torna possível uma montagem que irá ativar o que não havia sido explicitado no trabalho pelo qual eles haviam sido gerados. Não se trata, porém, de buscar um conhecimento sobre a poética do artista ou recompor uma memória das etapas de produção e apresentação do trabalho, como uma documentação do processo, mas da possibilidade de deslocamento desses elementos de seu papel utilitário, que ainda persiste no arquivo, para a ativação das analogias que podem ser estabelecidas entre eles. O presente texto compõe uma etapa na elaboração de uma investigação sobre o processo de produção artística usando arquivos de imagens como base. Tanto a etapa de elaboração como a própria apresentação deixa resíduos que se acumulam em algum arquivo. Inventariar e promover uma montagem a partir desse material é um modo de tornar visível algo a respeito dos vetores que agiram e continuam a reverberar. Em geral, o procedimento do artista se assemelha a de um colecionador que adota uma referência para orientar a busca pelos elementos que irão compor sua coleção, deslocando os objetos de interesse para um outro território onde podem ser observadas outras relações entre eles. A montagem irá tornar possível a produção de um modo de visibilidade dessas semelhanças que, atualizadas em um tipo de apresentação, torna sensível algo que diz respeito ao tempo do lugar em que se manifestam, criando uma maior proximidade com o espectador. Inventariar o arquivo significa adentrá-lo orientado por um sentido que desorganiza o anterior. Olha-se com atenção esse microuniverso como uma concentração de vestígios. Retomá-lo é uma forma de perceber outras aberturas em um campo que parecia já bem demarcado. Trajeto feito pelo artista Marcos Bonisson ao debruçar-se sobre os seus próprios estudos. Artista-arquivista, habituado a recolher pedaços do mundo pela fotografia, filmes, vídeos e em cadernetas de notas, resolve investigar os próprios arquivos. Neles estão incorporadas informações visuais e textuais, evidências de todas as pausas, hesitações, insistências e desistências do artista. Mostrar esse material significa expor o próprio método de trabalho, seu modo de operar, suas escolhas, os procedimentos, e o tipo de edição que irá levar a um resultado, seja uma obra autônoma ou um evento efêmero, que encontra na fotografia um tipo de memória. Trata-se de objetos-vestígios, formas precárias, que, em princípio, não foram produzidos para serem exibidos, mas somente para orientar. São marcas de um caminho percorrido, porém não se esgotam na apresentação do trabalho e abrem a possibilidade de desdobramentos em outras montagens. |
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Bibliografia | AGAMBEN, Giorgio. Qu’est-ce que le contemporain? Paris: Rivages, 2008.
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