ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Práticas fílmicas do projeto Vídeo nas Aldeias |
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Autor | Juliano José de Araújo |
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Resumo Expandido | A comunicação discute o processo de realização cinematográfica do projeto Vídeo nas Aldeias (VNA), compreendendo como se dá a preparação, a filmagem e a montagem dos documentários feitos no âmbito da ONG. Nosso objetivo é evidenciar as práticas fílmicas adotadas pela equipe do VNA em oficinas de formação audiovisual nas comunidades indígenas.
Quando falamos em práticas fílmicas estamos pensando em todos os procedimentos implicados na realização de um filme documentário; desde a preparação do mesmo com a inserção profunda do cineasta no meio que será retratado, a escolha do tema, dos personagens, a elaboração ou não de roteiros etc.; a filmagem, compreendendo escolhas estéticas e técnicas, como a opção por filmar em planos curtos, longos ou alterná-los; e a montagem. É preciso considerarmos, nesse contexto, que “na realização de todo documentário” existe sempre “uma relação de poder em que o realizador, queira ele ou não, detém o domínio sobre um processo em construção, enquanto as pessoas filmadas a ele são submetidas” (FREIRE, 2011, p. 31). O projeto VNA, seguindo as propostas do antropólogo-cineasta Jean Rouch, fundador do cinema verdade francês, propõe uma produção audiovisual compartilhada (ROUCH, 2003, p. 79-98) com os povos indígenas para fortalecer suas identidades, patrimônios culturais e territoriais. De que maneira a adoção dessa postura repercute no processo de realização cinematográfica em questão? Como fica a relação de poder entre realizador e pessoas filmadas? Quais são os papeis desempenhados pelos cineastas indígenas, suas comunidades e o coordenador do projeto, Vincent Carelli, e demais colaboradores do VNA, nas etapas de preparação, filmagem e montagem dos documentários? Para responder essas perguntas, os filmes Duas aldeias, uma caminhada (Ariel Ortega, Jorge Morinico e Germano Beñites, 2008), Filmando Khátpy (Coletivo Kisedje de Cinema, 2011) e A iniciação do jovem Xavante (Divino Tserewahú, 1999), todos lançados no âmbito da série Cineastas indígenas, serão objeto de estudo dessa comunicação. A partir da análise fílmica, em uma perspectiva textual e contextual (AUMONT e MARIE, 2009), ou seja, estabelecendo um diálogo entre elementos internos (imagem e som) e externos dos filmes, e vice-versa, à luz de alguns conceitos teóricos da antropologia fílmica (FRANCE, 1998; COMOLLI, 2009) e de entrevistas com o coordenador e integrantes do VNA, e também alguns cineastas indígenas, buscaremos entender o processo de realização cinematográfica do projeto. Acreditamos, a título de hipótese, que as práticas fílmicas do VNA permitem-nos pensar na configuração de um cinema documentário intercultural (FRANÇA e LOPES, 2010; MARKS, 2000), na medida em que são filmes que não podem ser considerados a partir de uma única cultura, mas sim de um movimento e uma relação entre culturas e formas de conhecimentos diversas, inseridos em um contexto de uma partilha constante entre indígenas e não-indígenas, de transformações e fluxos culturais e à experiência de viver entre dois ou mais regimes de conhecimento. |
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Bibliografia | ARAÚJO, A. C. Z. (Org.). Vídeo nas Aldeias 25 anos: 1986-2011. Olinda: Vídeo nas Aldeias, 2011.
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