ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Tempos na performance audiovisual: ao vivo e real |
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Autor | Patricia Moran Fernandes |
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Resumo Expandido | Diretamente relacionada à televisão, a noção de ao vivo tem sua acepção alargada e, por que não dizer, colocada em crise, dada à sua abrangência na contemporaneidade. Hoje refere-se tanto a eventos tradicionais sem mediação técnica como o teatro e acontecimentos em estádios ou casas de espetáculos, ou seja, situações de co-presença física entre ator/cantor e público, quanto à internet, dispositivos móveis, e jogos online. A arte também passa a se valer do ao vivo, como um dado de sua poética. Performances audiovisuais também nomeadas de Cinema ao Vivo, lançam mão da simultaneidade entre a criação e a experiência do público. Haveria um denominador comum nos trabalhos “ao vivo” produzidas a partir de distintos meios de exibição e materialidades de produção? Em princípio a presença em ato do realizador.
Com a arte do vídeo o ao vivo transforma-se ainda em uma espécie de efeito de ao vivo. Kaizen (2008) trata as possibilidades de armazenamento da imagem emulando o ao vivo, menciona a fita magnética e artistas como o pai da videoarte Nam June Paik, o artista pop Andy Warhol e artistas do vídeo e performers como Dan Graham, Vito Acconci e Bruce Nauman como realizadores que se apropriam da potência de simultaneidade do vídeo para a invenção de trabalhos que exploram outra acepção do ao vivo. Dan Graham denomina o vídeo como um meio no present time (apud Kaizen, 2008, 159), ou seja, ele se dá no agora e oferece imediaticidade e instantaneidade entre a produção e a visualização. Está na improvisação uma das perspectivas mais estimulantes do “ao vivo”. O diretor de televisão inventa o evento no momento em que ele acontece. Estes dois aspectos que marcam a televisão, trazem a proximidade e separação entre artes contemporâneas ao vivo e a TV. Em performances ao vivo criadas por VJs ou artistas em geral, não há evento a ser captado, a não ser quando em espetáculos a câmera fica aberta, novamente circuito fechado. O “ao vivo” refere-se à combinação e manipulação de bancos de imagem. A idéia de “ao vivo”, no senso comum, evoca o frescor dos fatos, a simultaneidade entre a emergência de um fato social e sua presença imagética em outro lugar, seja ele da cidade ou do mundo. Um paradoxo produtivo carrega a idéia de “produção de acontecimentos”, produção esta formalizada de distintas maneiras. Acontecimentos são marcados justamente pela erupção de algo que foge ao controle. Ao procurar definir o que vem a ser acontecimento, Edgar Morin parte da constituição do cosmos e chega às ciências exatas e humanas. Ao mencionar o cosmos afirma ser este e sua vida o resultado de acontecimentos, segundo o autor, assentado em acidente, risco e acaso (1972, 9). A vida se constitui então de fenômenos físico-químicos e acontecimentos que produzem sua combinação. Morin coloca em debate o evolucionismo de Darwin e perspectivas da historiografia como o entendimento linear do avanço no tempo da sociedade, e do próprio homem como espécie. Ao contrário, ele concebe a “história como uma combinação entre processos auto-generativos e hetero-generativos (onde o barulho, o acontecimento, o acidente, contribuem de maneira decisiva para a evolução)” (1972, 13). Sem procurar desenvolver uma teoria acabada, mas ao contrário, tentando mostrar o movimento, ou melhor, o devir de fenômenos sociais e biológicos, Morin propõe linhas de força para operacionalizarmos em termos analíticos singularidades. |
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Bibliografia | Auslander, Philip. 2008. Liveness. Performance in a mediatized culture. 2nd edition. Routledge: London and NewYork.
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