ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Masculinidades videoclípicas: “raça”, gênero musical e erotização |
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Autor | RODRIGO RIBEIRO BARRETO |
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Resumo Expandido | A vinculação de cantores e bandas a determinado gênero musical influencia o tipo de convenções e soluções criativas acionadas em seus clipes, assim como cria também expectativas do público a respeito do que será visto, incluindo quais seriam as figuras e comportamentos masculinos mais “apropriados” a cada caso. Certamente, umas das estratégias com mais potencial para tensionar padrões dominantes de representação da masculinidade é a recorrência à objetificação e erotização do corpo masculino – especialmente quando envolve os próprios artistas musicais protagonistas dos clipes. Indo além da constatação de que essas escolhas são parte de estratégias marqueteiras para angariar atenção em torno da obra, é possível situar alguns clipes em meio a inquietações artístico-expressivas a respeito do masculino, em cujo cerne estão intrinsicamente envolvidas questões de “raça” e identidade.
Essa proposta volta-se para a comparação entre clipes de rock, de R&B e de pop latino: respectivamente, Give it Away (Stéphane Sednaoui/Red Hot Chili Peppers, 1991), Untitled: How Does It Feel? (Paul Hunter/D’Angelo, 1999) e Sad Eyes (David LaChapelle/Enrique Iglesias, 2000). Tal seleção reserva um lugar central ao pertencimento étnico-racial assumido ou presumido dos artistas mencionados nas representações genérico-sexuais apresentadas. Ela procura assim demonstrar, no formato videoclipe, o quanto as categorias de “raça” e sexualidade estão culturalmente entremeadas nas definições e morfologias da masculinidade (Reeser, 2010). Alguns questionamentos principais norteiam a análise: 1) Com relação à que formas masculinas dominantes os clipes adequam-se ou contrapõem-se?; 2) Em que sentido o corpo não branco é construído como uma alteridade mais visível ou sexualmente explorável?; 3) Como é problematizada a não marcação da “branquitude” masculina como objeto erótico? Os clipes escolhidos são promissores para a identificação de marcas que vão além da masculinidade tradicional, embora nem sempre tal transgressão pareça estável. Nos dois primeiros, a ausência de figuras femininas sexualizadas já os fazem fugir das convenções de seus respectivos gêneros musicais. Contudo, diante, por exemplo, da clara exposição e fetichização do corpo dos performers de Give It Away, é possível perguntar em que medida o investimento no humor do clipe buscaria resistir à objetificação masculina e, ao mesmo tempo, em que medida a tinta corporal prateada usada pela banda reforçaria a “invisibilidade” do homem branco como objeto. No caso do gradual mapeamento do corpo de D’Angelo em Untitled, tem-se o perfeito ajuste à condução emocional da canção, mas, por outro lado, é inegável a carga cultural (não necessariamente positiva) trazida à baila com a apresentação da nudez de um homem negro em postura contida. Há, por fim, menor sutileza e mais convencionalidade em Sad Eyes, que, claramente, buscar associar símbolos fálicos e a usual objetificação feminina à “latinidade” de Iglesias. Ao se pensar, no entanto, no público de cada um dos clipes, é importante considerar diferentes formas de apropriação, indo desde a identificação dos espectadores masculinos heterossexuais até o despertar do desejo de mulheres héteros, homens gays ou bissexuais, diante desses pouco usuais homens-objeto. Elementos textuais e contextuais relativos às obras devem então ser localizados na interseção dinâmica de muitos aspectos: 1) a identificação, mesmo no seio da cultura massiva, de possibilidades relativizadoras de representações masculinas dominantes; 2) a persistência, por outro lado, de certos mecanismos de espetacularização do “outro” (Hall, 2013); 3) a provável incidência das diversas vinculações identitárias (étnico-raciais, musicais, de nacionalidade, de orientação sexual etc.) dos diretores e artistas musicais sobra as obras e 4) a possibilidade de que elas venham a contribuir para a construção de masculinidades renovadas e mais variadas, algo em sintonia com as proposições de Hooks (1990). |
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Bibliografia | HALL, Stuart. Que ‘negro’ é esse na cultura negra?. In: HALL, S.. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013, p.
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