ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | O transe negro do leão: africanidades em três filmes de Glauber Rocha |
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Autor | Marcelo Carvalho da Silva |
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Resumo Expandido | O universo cultural africano – seja no Brasil ou na África – é tematizado diretamente pelo cineasta Glauber Rocha em Barravento (1962) e em Der Leone Has Sept Cabeças (O Leão de Sete Cabeças, 1971); e indiretamente em A Idade da Terra (1980). Nossa proposta é investigar como o cineasta se coloca frente à problemática das culturas africanas nesses filmes, tendo em vista temas como a exploração capitalista, a religiosidade e a práxis revolucionária.
Nossa investigação levará em conta a reflexão de pesquisadores que trabalharam com a obra de Glauber Rocha, como Ismail Xavier, Ivana Bentes, Jean-Claude Bernardet etc., bem como com o quadro conceitual formulado pelo filósofo Gilles Deleuze em seus livros sobre o cinema, A Imagem-Movimento e A Imagem-Tempo. Afora tais referências, a metodologia incidirá prioritariamente na investigação das questões suscitadas pelos três filmes de Glauber anteriormente citados. É nas imagens dos filmes que buscaremos os termos propostos por Glauber sobre os modos de existência identificados por ele como sendo de matriz africana, tanto na África, quanto no Brasil. Identificamos nesses filmes a busca por um pensamento sincrético. A ideia de um povo (e de um povo negro) unificado se desfaz aos poucos na passagem entre os três filmes em sentido inverso ao da constituição de um “povo por vir”, assumido por Glauber na medida em que toma a fala para si: em A Idade da Terra, ouvimos a voz de Glauber em off tanto na narração, quanto em cena, invadindo o espaço diegético nas instruções que dá aos atores. Glauber não se dá personagens reais como Pierre Perrault ou Jean Rouch, mas compõe com seus personagens, na própria construção fílmica, uma fabulação coletiva, exasperada, que se alia à redenção dos povos africanos transnacionais que ainda nascerão. Assim, o devir revolucionário e metamórfico africano em Glauber Rocha encontra sua resolução geral num projeto de redenção pelo sincretismo, cuja concretização se atualiza de maneiras bem diversas entre si, mas que levam em conta a identificação das potencialidades de autossalvação das forças sociais autóctones e no recurso a sincretismos diversos, quando as transformações redentoras se dariam pela miscigenação de forças heteróclitas, culturalmente distantes e mesmo contraditórias entre si. Cada um de seus filmes se caracteriza por um momento deste pensamento geral. Assim, temos: (1) Barravento, cuja ideia de um povo negro pressuposto ainda está presente, tanto quanto a possibilidade do despertar de uma consciência étnica, social e de classe na tensão entre o discurso racional e a religiosidade popular. (2) Em O Leão de Sete Cabeças, onde os povos africanos se encontram num estado de estranha “minoria” em seu próprio continente, mas que ainda persiste a saída pela revolução na composição mnemônica da história contemporânea africana em simbiose com as forças místicas autóctones. E ainda, (3) em A Idade da Terra, filme onde já não há mais a ideia totalizante de um povo, mas uma noção geral de coletividade enferma cuja solução transformadora se daria por um radical sincretismo nas diversas faces do Cristo – não apenas negro, mas também índio, português, militar, trabalhador, guerrilheiro, bandido etc. – que recompõem a memória de exploração (do colonizador e do colonizado) no contato com as potencialidades das comunidades dispersas pelo território brasileiro: procissão em Salvador, canteiro de obra em Brasília, terreiro de candomblé, desfile de escola de samba etc. |
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Bibliografia | BENTES, Ivana. Cartas ao Mundo. S. Paulo: Cia das letras, 1997.
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