ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | : “O cinema ao redor” |
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Autor | Ismail Xavier |
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Resumo Expandido | A proposta é uma aproximação comparativa a O som ao redor (2012), de Kleber Mendonça, que visa salientar como, pela sua composição formal e dramática, o filme é capaz de configurar o percurso do cinema pernambucano desde 1996 - destaco Baile Perfumado (Paulo Caldas, Lírio Ferreira, 1996), Árido Movie (Lírio Ferreira, 2006), Deserto Feliz (Paulo Caldas, 2007), Viajo porque preciso, volto porque te amo (Marcelo Gomes, Karim Aynouz, 2009) e Baixio das bestas (Cláudio Assis, 2007) – e incluindo filmes lançados também em 2012, como Boa sorte, meu amor (Daniel Aragão) e Eles voltam (Marcelo Lordello).
O foco recai sobre filmes nos quais se desenvolve, de diferentes formas, uma problemática de fundo a mobilizar cineastas que, guardadas as diferenças de estilo, exploram certos motivos dramáticos de forma reiterada, justapondo as camadas de tempo que se acumulam na experiência contemporânea em nossa modernização incompleta marcada pelas permanências do mundo do “homem cordial”, na formulação de Sérgio Buarque de Hollanda, mundo que trava a formação da cidadania, embaralhando o público e o privado, repondo a hegemonia de classe e as tradições patriarcais de mando na vida da cidade. O cinema de Pernambuco, na sucessão de “gerações” formadas no cinema recente, compôs um conjunto que apresenta conexões fortes e sugestivas que não excluem a afinidade com obras de outros pólos produtores, destacada a relação de O som ao redor com Trabalhar cansa (Marco Dutra, Julian Rojas, 2011), já apontada pela crítica, e com Os inquilinos: os incomodados que se mudem (Sérgio Bianchi, 2009), filmes paulistas centrados na questão do medo e da intimidação como marco da experiência na grande cidade. E destacada também a notável forma como o filme de Kleber se insere na constelação de filmes brasileiros que exploraram situações dramáticas protagonizadas pelo que denominei figuras do ressentimento. Tais figuras deram a tônica a uma parcela razoável de filmes recentes, ensejando uma reflexão que venho fazendo desde o ano 2000, com textos já publicados, reflexão que O som ao redor vem ampliar na minha análise do “cinema da retomada” como um lugar onde se encena, com frequência, um “concerto do ressentimento nacional”. A comunicação não se volta, como é nítido neste resumo, para uma “análise de texto” focada no filme de Kleber. Tenho deste filme uma leitura própria, feita em diálogo com a sua fortuna crítica; desta leitura, vou apenas escolher os aspectos que, de modo conciso, preparam o movimento comparativo e a argumentação que fará a referência a obras pertencentes à constelação aqui citada, das quais selecionarei os traços que as inserem no eixo do retrospecto e as colocam como variantes na gama de “motivos” que inspira o meu diagnóstico de partida, ou seja, o de que o filme de Kleber é ponto de convergência cuja força vem da consistência de sua opção formal e do modo como tais “motivos” encontram nele sua expressão mais aguda, considerada a lida com a arqueologia dos espaços da modernidade como acumulação de tempos históricos que se justapõem e convivem de forma singular: o passado no presente, o campo na cidade. Nele, o paradigma patriarcal e as questões de classe não se articulam como relação entre o moderno e uma memória aí contida do passado, mas como presença do passado no presente, como presença hoje de formas de poder e de relações de classe arcaicas. Resulta o travo que encontra seu correlato afetivo no ressentimento. Tudo se articula com originalidade, mas de modo a suscitar a recapitulação de todo um percurso, como o faz toda grande obra conforme nos lembra Jorge Luis Borges. |
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Bibliografia | LIMA, Cristiane da Silveira & MIGLIANO, Milene. “Medo e experiência urbana: breve análise do filme O som ao redor” in Rebeca, revista brasileira de estudos de cinema e audiovisual, ano II, n.3, jan-jun 2013, pp. 185-209.
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