ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Amores brutos – enredando multiplicidade e não-linearidade |
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Autor | Mauro Giuntini Viana |
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Resumo Expandido | Na primeira década do século XXI, o conjunto de filmes realizados por Alejandro González Iñárritu – Amores brutos (Amores peros, 2000), 21 gramas (21grams, 2003), Babel (Babel, 2006) e Biutiful (Biutiful, 2010) – oferece fértil material para uma reflexão sobre inovação na narrativa cinematográfica e as contradições e conexões entre os cinemas nacionais e a economia globalizada. Amores brutos, além de estrondoso sucesso de bilheteria em seu país de origem teve também repercussão global. Foi o filme mais premiado em festivais no ano de seu lançamento e distribuído em vários países, apesar de alicerçado em temática local. A intenção desse trabalho é investigar como a narração desse filme estimula e constantemente renova o interesse do espectador na trama por meio de variações de perspectivas entre personagens ordenadas temporalmente de forma não-linear em uma “narrativa de rede”.
Em sua prima obra, o cineasta mexicano apresenta uma narrativa com múltiplos enredos – multiplot – na qual uma batida acidental de automóveis na Cidade do México promove o intersecção da vida de três estranhos. Iñárritu tece com arrojo e destreza sua primeira “narrativa de rede”, tipologia que vai distinguir não apenas sua “trilogia da morte” (Amores brutos, 21 gramas e Babel), mas tornar-se uma marca do cinema contemporâneo transnacional. “Narrativa de rede” (network narrative), de acordo com David Bordwell (2008, p.189-221), é um modo narrativo fílmico no qual encontros acidentais de diferentes tipos, ao acaso, engatilham conexões inesperadas entre personagens não relacionadas, conformando uma rede complexa de relações diretas e indiretas. Assim como nos outros filmes de Iñárritu, essas conexões são estabelecidas por meio da violência, ressaltando sua relevância na sociedade atual e revelando o impacto de ações descuidadas de uma pessoa sobre outras. No filme, a intersecção ao acaso das trajetórias dos protagonistas em um acidente de carros carrega uma parte considerável do seu peso narrativo ancorando manipulações temporais e gerando variações de perspectiva na narração das histórias. Amores brutos cultiva o principal estímulo ao envolvimento do espectador nas narrativas de rede que é a expectativa de que personagens, ações e situações tendam ao paralelismo entre elas. O paralelismo vem preencher as lacunas deixadas pelo afrouxamento da causalidade no encadeamento do filme e induz a comparações solicitando com que o espectador repare nas afinidades e diferenças que lhe são apresentadas entre as personagens e situações na trama. A capacidade de promover arrebatamento por meio da justaposição de cenas enfatizando temas constitui o ponto forte de atração das narrativas de rede. Amores brutos apresenta comparações contrastantes ao abordar as diferenças entre formas de amar, classes sociais e faixa etária de personagens. A análise de Amores brutos examinará a estrutura narrativa do filme que é dividida em três capítulos com durações levemente diferenciadas. Cada capítulo é introduzido por um intertítulo com os nomes dos personagens principais de cada parte, sendo que a narração privilegia apenas um dos membros dos casais. As histórias são mais porosas do que a divisão tripla insinua, com várias inserções de cada história permeando as outras. A ordenação temporal não-linear do filme é norteada pela redundância de quatro apresentações da cena da colisão de carros, único momento em que os três protagonistas compartilham o mesmo tempo e espaço. A partir da confrontação do posicionamento dos eventos no enredo (plot) com sua localização na história (story), pretende-se investigar os atrelamentos e impactos das escolhas de narração principalmente nas instâncias narrativas do tempo e das personagens. Nesse estudo a narrativa fílmica será abordada como processo, no qual a atividade de selecionar, arranjar e apresentar o material da história, visa a atingir efeitos específicos no receptor, conforme concepção cognitivista-neoformalista de David Bordwell. |
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Bibliografia | BORDWELL, David. Narration in the fiction film. Madison: The University of Wisconsin Press, 1985.
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