ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | Ecossistemas culturais e o curta-metragem baiano entre 1950 e 1970 |
|
Autor | Cyntia Araújo Nogueira |
|
Resumo Expandido | O antropólogo e historiador Antônio Risério, em seu influente ensaio Avant-garde na Bahia (1995), adota a expressão “ecossistema cultural baiano” para pensar as pulsões transformadoras e as tensões que atravessam um breve momento da vida artística, cultural e social em Salvador nos anos 1950.
O conceito sugere que para além de um “contexto”, é possível apontar uma relação de “interdependência” e “intervenção mútua” (MEDEIROS; PIMENTEL, 2013) entre as práticas artísticas, culturais, sociais e políticas que se estabelecem com a criação das inovadoras escolas de artes da Universidade Federal da Bahia, a atuação do Clube de Cinema da Bahia, a criação do Museu de Arte Moderna da Bahia e a emergência de um “mundo negro” na vida cultural e social da cidade, que procura afirmar-se como uma metrópole cultural para o Brasil, num época da vida cultural brasileira profundamente marcada por ideologias nacionalistas. Essa comunicação pretende analisar de que forma essa "contextura" ou "ecossistema cultural baiano", de acordo com os conceitos propostos pelo autor, incidirá sobre os processos de criação artística, conceitual e técnica do cinema que surge na Bahia entre 1955 e 1979, em especial na produção de curtas-metragens documentais e experimentais (ou de artista) de Alexandre Robatto (Vadiação, 1954), Glauber Rocha (Pátio, 1958), Luiz Paulino dos Santos (Um dia na Rampa, 1958), Sílvio Robatto (Igreja, 1960, e Invenção, 1970), José Agrippino de Paula (Candomblé do Dahomey e Candomblé do Tongo, 1972; Céu sobre a água, 1978), Mário Cravo Neto (Gato/Capoeira, 1979) e José Umberto (Brabeza, 1978). Buscaremos, dessa forma, mapear as interrelações entre o desenvolvimento dos primeiros curtais documentais e experimentais baianos e outros campos artísticos e suas vanguardas, como o teatro, a música e a dança. Recorrendo a noções como ecologia e meio ambiente, utilizadas por autores como Gilles Deleuze, Félix Guattari (1992) e Josep Domènech (2011), Medeiros e Pimentel (2013) afirmam que “as artes visuais e as imagens são organismos vivos que interferem no todo da esfera cultural e sofrem interferências dos demais organismos e sistemas que compõem esse território” (2011, p. 9, 10). Na Salvador dos anos de 1950 a 1970, a literatura de Jorge Amado e o modernismo nacionalista de Carybé e Mário Cravo Júnior, entre outros, dialogam/disputam com as inovações sonoras da música erudita concreta de Koellreuter; a dança contemporânea de Yanka Rudzka; a criação, com métodos e técnicas modernas, da Escola de Teatro e do Teatro Santo Antônio fundados por Martim Gonçalves; a implementação do Museu de Arte Moderna da Bahia liderada por Lina Bo Bardi e sua visão particular de cultura popular; a consolidação dos estudos antropológicos sobre o “mundo negro baiano”, com atuação de nomes como Pierre Verger, Roger Bastide e Vivaldo Costa Lima; e, finalmente, com um imaginário anti-moderno que surgirá, como nos informa Santana (2010), como uma espécie de contrarreforma dos donos do poder da velha Província, através de campanhas “nacionalistas” que gradativamente afastam “estrangeiros” como Martim Gonçalves, Koellreuter e Lina Bo Bardi. É dentro desse ecossistema que é possível identificar o surgimento de práticas, técnicas e conceitos artísticos que se alimentam e retroalimentam, dentro de um processo de convergências/divergências/interdependências entre as condições de produção e reprodutibilidade, bem como de diferentes concepções de mundo, de arte, de cultura, do moderno, do popular, da “agência afro-descendente” e de engajamento político, o desenvolvimento de uma cinematografia baiana entre os anos de 1950 e 1970. |
|
Bibliografia | CRUZ, Marcos Pierry. O Super-8 na Bahia: história e análise. Dissertação (mestrado). Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
|