ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | O que pode um corpo na multidão? |
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Autor | Roberto Robalinho Lima |
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Resumo Expandido | A proposta desta comunicação é refletir sobre a produção e circulação de imagens durante as manifestações de junho de 2013 na cidade do Rio de Janeiro. Duas leituras servirão de provocação para a escrita: 1. Capitalist sorcery: breaking the spell (Pignarre e Stengers, 2005) e 2. Webs of power: notes from the global uprising (Starhawk, 2002). As imagens das manifestações, tanto como documentários feitos a patrir delas, serão pensadas a partir de um conceito presente na obra de Pignarre e Stengers inspirado no livro de Starhawk, que pode ser resumido na seguinte colocação – e se pensarmos o capitalismo como um sistema de feitiçaria? E se ao invés de cegados pela ideologia estivéssemos capturados por um feitiço, que como todo bom feitiço não é evidente, visível, mas infiltrado no nosso âmago, no corpo, na banalidade do cotidiano? O que seria dizer que não basta fazer ruir os pilares da ideologia para ver com clareza os sistemas de dominação do capitalismo global, já que se estamos expostos à feitiçaria, estamos sempre vulneráveis ao seus efeitos de captura. Assumir nossa vulnerabilidade perante a feitiçaria capitalista seria um primeiro passo na resistência a seus sistemas de dominação. Ao contrário da ideologia, que prevê uma libertação do sujeito, na medida em que é esclarecido, ao pensar o capitalismo a partir da perspectiva da feitiçaria, o risco de ser capturado não se esvai nunca, e é preciso tomar medidas para se proteger, é preciso inventar contra-feitiços para evitar a captura.
Uma primeira hipótese é ver as imagens das manifestações de junho, dentro do campo dos contra-feitiços, como uma técnica de proteção contra a captura capitalista. É possível estas imagens funcionarem como técnicas de resistência e proteção? Como se dá este processo? Quais as fronteiras desta produção, quais os seus riscos e vulnerabilidades? Starhawk (2002) aponta para importância da produção de outras narrativas, fora da mídia hegemônica, como formas de combate e de proteção aos ativistas das manifestações anti-globalização, e de fato há nas manifestações uma proliferação de registros imagéticos, a partir de diversos atores presentes – mídia ativista, manifestantes, polícia, mídia hegemônica, Black Blocs, pode-se dizer que há uma multiplicidade de olhares e registros. Não há uma imagem das manifestações, mas as muitas que cabem nas infinitas telas. Se resistir é produzir territórios imaginados, em “flagrante delito de fabulação” (Deleuze: 2008, 156), como, nas manifestações de junho, essas imagens contribuem para construção deste território? E como neste processo elas podem se tornar contra-feitiços? A comunicação irá explorar a relação entre estas imagens e a proposta de um cine-transe de Jean Rouch (2003), em que a produção e circulação de imagem produz um agenciamento entre gesto, corpo, imagem e espectador. A potência política destas imagens está na possibilidade de afetação entre os corpos de quem vê a imagem, de quem faz o registro e de quem está diante da câmera vivenciando um risco real ao seu corpo. É preciso operar uma imagem-transe para que ocorra uma troca de afetos, para que haja uma partilha dos riscos aos corpos. Esta comunicação irá explorar e problematizar esta hipótese, para pensar alguns caminhos de análise das imagens produzidas durante as manifestações de junho de 2013 no Rio de Janeiro, como também dos documentários posteriores que circulam na internet a partir de coletivos como a série Batalha da Alerj, Batalha da Presidente Vargas e Batalha do Leblon realizados por Matia Maxx. |
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Bibliografia | DELEUZE, Gilles. Conversações. São Paulo, Editora 34, 2008.
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