ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | A violência contra as mulheres em Ciudad Juárez: dois olhares |
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Autor | Maria Celina Ibazeta |
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Resumo Expandido | A partir de 1993 Ciudad Juárez transformou-se em um ícone indiscutível da violência contra as mulheres. Mesmo que na atualidade muitos outros lugares do México e do mundo apresentem um número maior de vítimas fatais, produtos dos feminicídios, esta cidade de fronteira é mundialmente reconhecida como o lugar no qual há mais de duas décadas as jovens, na maioria de classe baixa, têm sido assassinadas com absoluta impunidade. A antropóloga mexicana Marcela Lagarde traduziu como “feminicídio” o conceito “femicide” de Jill Radford e Diana Russell que se refere à violência misógina masculina que culmina na morte da mulher como expressão máxima de seu desejo de domínio e controle social.
Muitas são as organizações não governamentais, várias delas formadas por familiares das própias vítimas, que começaram uma luta pela justiça e contra o silêncio e o esquecimento da sociedade civil. O cinema tem contribuido muito nesse caminho, chamando a atenção para a grande rede de encobrimento formada pelas altas esferas políticas a nível nacional, as autoridades locais, a elite econômica juarense e o narcotráfico e lembrando que os verdadeiros culpados estão ainda em libertade. Maricruz Castro Recalde fala do cinema como um “lugar da memória” quando analisa o documentário da cineasta chicana Lourdes Portillo Señorita extraviada (2001) e destaca que mesmo sendo exibido fora do circuito comercial no México, sua influência foi importantíssima entre os diretores mexicanos que dariam continuidade ao tema. Este foi o caso de Bajo Juárez: la ciudad devorando a sus hijas (2006) de Alejandra Sánchez e José Antonio Cordero, documentário que aproveitou a experiência do curta-metragem da diretora “Ni una más” (2001) em que a mãe e a irmã de Lilia Alejandra García Andrade foram entrevistadas em Ciudad Juárez apenas meses depois de sua morte. Acompanhado de uma grande campanha publicitária, com presença de artistas renomados, Bajo Juárez teve uma visibilidade maior no México do que Señorita extraviada, mas não apresenta nada que já não estivesse na obra de Portillo. É justamente esse o ponto de partida deste artígo. Os depoimentos das famílias das vítimas, das autoridades vinculadas ao Estado ou a ONGs sobre a investigação dos casos, a suspeita de falsos culpados, a corrupção e a ineficiência policial são os fios que desenvolvem ambos trabalhos. A novidade de Bajo Juárez está, sem dúvida, em sua forma. Este documentário resgata um traço que já foi de fundamental importância na história do cinema mexicano, especificamente do que se conhece como a época dourada: a musicalidade. A trilha sonora, composta por Tareke Ortiz, transita pelos sons e ritmos alegres e populares do norte mexicano como o corrido, a cumbia, a polka nortenha e a música country. Portillo, pelo contrário, escolhe a música instrumental que tende a criar uma atmosfera de suspense. O objetivo deste artígo é comparar duas formas cinematográficas muito diferentes que trabalhar com um mesmo tema: o tratamento do som. A hipótese que orienta esta pesquisa é que os diretores, tanto consciente como inconscientemente, motivaram suas escolhas de tomada, edição e som a partir de seu lugar de enunciação. A identidade estadunidense (chicana) de Portillo e a mexicana de Sánchez e Cordero, tem um papel principal na hora de analisar cada obra e de compreendê-las. |
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Bibliografia | CASTRO RICALDE, Maricruz. “Género y estudios cinematográficos en México”. CIENCIA ergo sum, Vol. 16-1, marzo-junio 2009. Universidad Autónoma del Estado de México,Toluca, México, p. 64-70.
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