ISBN: 978-85-63552-15-0
Título | A gênese da teoria cinematográfica |
|
Autor | Tereza Moreira de Azambuja Rodrigues |
|
Resumo Expandido | Ricciotto Canudo foi o pensador que atribuiu ao cinema o estatuto de sétima arte; a arte do filme era a fusão das artes plásticas e rítmicas, “um maravilhoso instrumento de novo lirismo” que tinha como finalidade suprema a visualização do aspecto intimista da vida, e não a pura representação dos fatos.
Em seus textos “Manifeste des sept arts” e “Esthétique du septième art” sustenta que o cinema é uma abstração, uma “arte nascida para ser representação total do espírito e do corpo, um drama visual feito com imagens e pintado com o pincel de luz”.(apud ARISTARCO, 1961) Sobre esse conceito de Canudo, o pincel de luz, é fortuita uma comparação posterior com Alexandre Astruc, que em 1948, publicaria um artigo intitulado “Naissance d’une nouvelle avant-garde: la caméra-stylo”, na revista de crítica cinematográfica L’écran français, em que cunharia o conceito de câmera-caneta. O trabalho de mise-en-scène do diretor – que era considerado o autor do filme–, estaria caminhando para transformar o cinema em uma nova forma de linguagem, e se comparar ao trabalho de um escritor – o cinema se tornaria, então, um meio de expressão tão flexível como o da linguagem escrita. “Uma linguagem,(...) uma forma na qual e pela qual um artista pode exprimir seu pensamento, por mais que este seja abstrato, ou traduzir suas obsessões (...) como hoje se faz com o ensaio ou o romance. É por isso que eu chamo a esta nova era do cinema a Caméra-stylo.”(ASTRUC, 1948) Canudo, no “Manifeste des sept arts”, compreende que a arquitetura e a música seriam as duas artes fundamentais, das quais derivam: a pintura e a escultura como complementos da primeira; a dança e a poesia como desdobramentos da segunda – a dança, um esforço da carne; a poesia, um esforço da palavra: ambas buscando se tornar música. O cinema, assim, faz a perfeita junção dessas duas artes fundamentais: “é a arte plástica em movimento”.(ARISTARCO, 1961) Diretores e filmes das vanguardas europeias estão submersos num meio tão plural que abrange toda forma de manifestação experimentalista avant-garde, característica do zeitgeist revolucionário da a década de 20 – que põe em questão a práxis de um sistema capitalista e de uma sociedade burguesa com valores morais falidos, pois, como diria Theodor Adorno: “a obra de arte vanguardista aparece como expressão historicamente necessária da alienação na sociedade do capitalismo tardio”.(BÜRGER, 1974) Todos esses jovens artistas estavam fartos de uma tradição normativa na teoria da arte. Para Adorno, as obras de arte de vanguarda vêm a se opor às obras orgânicas (ou “realistas”) com o objetivo de acabar com a possibilidade de atribuir validade a normas estéticas, tradição dessa forma orgânica de arte. “Em lugar da observação normativa, entra a análise de função, que faria o efeito (função) social de uma obra, a partir da confluência dos estímulos nela projetados e de um público sociologicamente determinável dentro de um marco institucional (instituição arte), o objeto da investigação.”(BÜRGER, 1974) Quando os artistas se interessam pelo potencial poético cinematográfico como meio de expressão de um mundo imaginário é que o cinema vira arte e expõe uma supra-realidade mais verdadeira que a realidade cotidiana, com a orquestração de temas a partir de princípios sinfônicos. “(...)[Os realizadores] defendem uma força de expressão ligada ao tempo. Ou seja, ao fluxo das imagens, ao movimento incessante da luz e dos corpos na tela, à sucessão necessária das impressões. O cinema torna-se expressão do fluxo visual como a música é organização do fluxo sonoro.”(AMIEL, 2007,p.121) Os novos artistas eram fortemente atraídos pelas infinitas possibilidades de uma arte recém descoberta: “Por essa época, o desejo de experimentar havia empolgado também os artistas franceses, disso resultando que todos os principais movimentos artísticos da década de 20 – impressionismo, cubismo, dadaísmo, surrealismo – pouco depois estavam representados no celulóide.”(KNIGHT, 1957, p.88) |
|
Bibliografia | AMIEL, Vincent. Estética da montagem. Lisboa: Texto & Grafia, 2011.
|